- Influências catatais transitando pelo Tarumã –
/Eu tinha o creme de leite
Também os
ovos e a massa
O queijo
gruyère já ralado
E um pouco
de pimenta do reino
Havia até
um vinho especial,
Para fazer um
belo prato ao molho branco..
Mas eu não
tinha a quem servi-lo.
Tem
coisas na vida
Que
por mais deliciosas sejam
Há de
serem compartilhadas
Por um quórum mínimo de dois...
Por isso,
Uns não
sentem sabor na vida
Eu sinto,
Pois me
alimento com o silêncio.../
/Uma
ilha
Uma rede na sombra
Livros e água de coco..
Depois de complicar durante toda a minha vida
Fui saber que só precisava simplesmente
disso..
Ainda há tempo
Mas estão acabando os cocos
Ou seriam as sombras infinitas.../
/Órfão
citadino
Quero ser adotado pelo litoral
Para viver um tempo acolhedor
Livre de espaço
Emancipando a minha incapacidade de amar../
/Oscilo entre poesias e pensamentos
Num mar
cujas ondas têm baixo comprimento
Exagerada
calmaria,
Que me
permite navegar entre vagas de palavras
Na maré
que não me leva a lugar nenhum
Porque
o importante é me molhar..
Basta
das vidas secas
Melhor
ou mais emocionante,
É o
risco de se afogar../
/Um
exército de pensamentos
Invadiu a minha república de poesias
Trancafiou os contos
Torturou poemas
Exilando amores vis
Instalando em mim regime de exceção..
Simpática ditadura,
Em que eu já sou um marechal.../
/O
desaparecimento do gato Astolfo
Só importa aos seus donos
A morte de Emanuel,
A praticamente ninguém..
São os inumeráveis referenciais da vida
Frente nossa ignorância relativa às ausências
O não aprendizado das essências,
Estúpida
escolaridade de subtrair../
/A
cor da lágrima
É a mesma das águas,
Da chuva, dos rios, lagos e oceanos
Também da alma, do espírito e do éter..
Só não é igual à cor do amor
Pois esse não é translúcido como todos os
outros
Ele é verde quando nasce,
Branco enquanto dura
E vermelho quando morre.../
/Aranhas
mudas morrem em decúbito ventral
Pelos cantos da pequena habitação
Eu sobrevivo em vertical supino
Para que o vento consolide lá fora meu peito
aberto de silêncios../
/Ninguém
consegue chorar uma só lágrima
As lágrimas são pares
Por causa dos olhos
Por causa dos olhares
Também pela reciprocidade,
Se ausente
O que impulsiona a corrente
Das lágrimas da gente...
Quando
morrem os dois
É para
renascermos independentes em cada um../
/Deixei
a folha em branco
Havia paz antes de escrever
Eu não queria macular esse instante
Foi então que eu guardei os papeis
E saí naquela noite às ruas caminhando em
negrito../
/Minha galeria
É dos quadros das mulheres sem rosto
Silhuetas tão fortes
Cabelos permeando a aura
Dos desejos que eu não matei em mim..
O negro da sombra que domina a face no retrato
Corresponde a tudo o que não aconteceu
Meu coração parede
Pensamento que moldura
Nesta vernissage eternamente fechada ao público../
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