Ele me pediu
ajuda. Do nada, revelou-se o desespero em sua totalidade. Referências
espaciais, os pontos de vista que diferenciam as pessoas inclusive entre elas
mesmas, então no tempo. Não havia tom de súplica, até achei que o tal desespero
foi exagero meu. Mas percebi que sua mão estendeu-se vazia no breu da cidade
oculta. Um grito silente cortou a noite em dois gomos de substância química com
teor ácido sobre aquela insistente sobrevida - como se todos nós não
estivéssemos por aí sobrevivendo. Drogadição, o mal do novo milênio que já se
continua dependente. Tímidas, minhas primeiras palavras soaram como
paternidade, de alguém que colocou a experiência à mesa em lugar das cartas de
adivinhação. Não sou pai de ninguém a ponto de me considerar pai de alguém que
não meus filhos, mas a condição temporária se fez presente diante do apelo. Num
segundo momento, a mesa estará cheia de frases, para que ele possa ouvi-las com
atenção de um sujeito são de esperanças. Amigo, lhe direi em síntese, que isso
é questão de fuga. Uma fuga virtual que, quando cessa, traz uma realidade muito
mais cruel do que era antes de se fugir. Não adianta mudar de cidade,
obrigatoriamente leva-se junto seus órgãos internos, cheios de passado em sua
composição, bastando olhar para dentro e ver o que há. Viagens? Não! Ilusão de
ótica emocional. Fantasia de sentimento surreal. Mundo das estrelas, cadentes
como meteoritos sobre o mar que ninguém viu. Ninguém o verá, se continuar
assim. Mas alguém o encontrará, se houver mudança. Para tudo tem-se um
princípio, e é justamente a humildade em pedir auxílio, o primeiro dos passos.
Olhe para os lados, jamais para trás. A estrada já é outra, para todo aquele
que deseja recomeçar. Desintoxicar-se, depurar-se, libertar-se. É muito difícil
banhar a alma, por ela não ser tátil. Ou purificar o espírito, por ele não ser
material. Pior ainda, seria lavar a mente, por ela também ser líquida. Sim, o
pensamento é líquido, tão líquido quanto a natureza das mudanças que se
apresentam à frente de nossos corpos. Não há troféus para quem consegue
extinguir seu passado errante: há medalhas, invisíveis, mas reluzentes para
dentro do peito, onde ninguém vê, apenas nós é que sentimos. Olhe para dentro, e
descubra que ali por perto está o segundo passo. É você quem há de dá-lo.
Aproveite o movimento que lhe trouxe aquela humildade, e siga em direção ao seu
amanhã. Pois existem questões na vida, que nós primeiramente precisamos nos livrar até do nosso
hoje, o nosso presente, do aqui e do agora.
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