sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Contos sob a copa das Araucárias


 PEDRAS BRANCAS 


A densa garoa quebrava o silêncio na tarde fria do litoral de agosto. Na varanda da casa perto da praia, olhando para o morro, ele ouviu o chamado do lado oposto. Correu para lá, deparando-se com grandes ondas no mar revoltoso e deserto por isso. Sem parar, desvencilhou-se das vestes cotidianas e mergulhou em direção à voz que pedia por ele sem palavras. A baixa temperatura da água e o perigo evidente, foram afastados não se sabe como. Onde não havia pé, a correnteza lateralmente o conduzia. Era estranho, pois se sentiu completamente abraçado por aquela situação como nunca antes o fora por afeto em sua vida: enfim, a natureza respondera incorporando-o como elemento integrante da paisagem. Sua característica vital se fez dominante, não havendo ninguém na orla em razão do mau tempo, portanto a observá-lo, naquele vai e vem de vagas escuras e turbulentas, deixando-se levar por dezenas de minutos. O raso estava fundo o suficiente para mantê-lo apenas com a fronte emersa naquela praia agora de tombo. Pronto...ele atendera a solicitação do apelo silente. Foi então que começou a escutar a si mesmo. Revivera os momentos mais importantes de sua existência, lembrando das pessoas que marcaram positivamente, os traçados sinuosos de seu destino. Ligeiramente entristeceu, é verdade, mas não foi preciso chorar diante de tanta elucidação. Porque era apenas como se estivesse partindo de um lugar determinado: indo embora, foi que ele se encontrou. Uns dirão prontamente que foi suicídio, pelo imediatismo. Os impressionáveis que foi acidente, pelo hábito da sugestão. Os reflexivos, souberam mais tarde que foi apenas um fato, única e exclusivamente em função de sua hora. Porque a espécie humana não cessa de rotular seus semelhantes, nem mesmo quando deixam de sê-lo... 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

CLIP - KARONA c/ Phil Collins


 'do you remember' 
 by 
 PHIL COLLINS 




Alforria - MÚSICA em Sol


  "THE KILLING OF GEORGIE"  

  ROD STEWART  






ACADEMIAs


Combinado, então. Por alguma espécie modificada de comunicação sensorial, eles optaram há tempos pela distância. Sim, pois a vida nunca deixará de ser uma simples sucessão de escolhas, por mais que não sejam tão singelas as consequências dos seus atos. Ela, com seus estereótipos. Ele, com seus conceitos. Por isso, eliminaram a chance do encontro e deixaram de viver um grande amor, para seguir ao encalço de expectativas que não esconderam por um lado a ansiedade, de outro a descoberta de uma real companhia. Enquanto ela dança nas sombras inventando músicas, ele canta em silêncio arranjando letras. Cada qual com sua variante de fuga, fazendo da arte um refúgio, mas resumindo-se a levar de carona o medo para lugar nenhum. Dela, jamais se soube, se continua ou não em busca de afinidade, sinal de que administrou bem o desvio. Ele, reitera que só se esgotará quando for infinito, indício de que ela, é verdadeiramente o sentimento. Entre luzes e sons dispersos, a consciência de que a beleza existe. Feliz de quem pode, corajosamente, vivê-la.  



 "Se as coisas são inatingíveis... ora!
    Não é motivo para não querê-las...
 Que tristes os caminhos, se não fora
   a presença distante das estrelas!"   

  - MÁRIO QUINTANA -  

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

hERMENÊUTICA <> aLGUÉM cANTANDO / zÉLIA dUNCAN & sIMONE

SINOPSE 
Esta extraordinária música de Caetano Veloso, evidencia o importante demonstrar da essência do ser humano, expressando-se na forma de cantoria, as coisas do coração. O canto, nos aproxima da natureza, à medida que é manifestação ou exteriorização das nossas vontades emocionais, independente mesmo  de suas consequências... 



 "aLGUÉM cANTANDO" 
 por zÉLIA dUNCAN & sIMONE 




 CONSONANTAIS 
Houve o dia em que o tempo foi embora, deixando ao encargo do espaço o andamento das coisas da vida. Tantos caminhos passaram por ali, até finalmente aportar o desafio. O desafio em discernir o que é destino, do que venha a ser acaso, invenção ou conveniência. Vida que deu voltas, outra que suspendeu. E agora, frente a frente, o mistério em saber se aquilo que já não é apenas algo, transformar-se-á, mas lado a lado. Dúvidas que provocam sob o novo sol a mente diária, para às noites chover um pouco de certezas. O frescor da brisa local eleva os corações num bailado silencioso com iminência de prelúdio, anunciação que permite sentir o início de um ato pleno de respostas. Uma mulher, um homem, e o mundo aos seus passos. Poderiam sentar-se em um cômodo qualquer e observar paralela e acanhadamente os pretéritos encerrados. Mas não, pois também possuem a chance de colocar à mesa suas essências, comungando um presente que pede corajosamente para acontecer. Percebem, que não é uma simples mudança de estação. Como o tempo já não está, então é respeitar o embalo das vozes, o encontro. O encontro com força em dígrafo, que afasta acasos, invenções e conveniências. E que talvez, não em brevidade, faça soar a melodia do afeto, revelando pelos nobres sentidos as percepções de novas e merecidas possibilidades...