quarta-feira, 28 de junho de 2017

Sem Marquise




Ao meu redor, próximas ou aproximadas. E sempre assim. Todas as pessoas, ácidas, sórdidas, dissolvendo-se. Parecem humores, fluidos em tubos de ensaio, e o mundo é o meio de cultura que receberá seu conteúdo em formato líquido, se espalhando e respingando nos outros. Oscilam entre seu pH exponencial quando na crista, e omissões, indiferenças e silêncios quando no vale de sua onda. Não me adaptei a elas. E nem vou. Também porque não quero. Permaneci à deriva, de tudo e de todos. Não passaram além da minha pele. Pela rigidez que eu criei como defesa. Prevenção ao cúmulo. Força em relação às sensações, frieza em face das desesperanças, como reação puramente física a tais presenças e ausências. Fiz-me equipamento de proteção individual ambulante. Não me deixo contaminar. Senão, o gelo não derreteria sob o sol. Ou o enfrentamento é diferente e proporcional, ou a submissão e a desolação tomam conta. Depois, chamam de depressão e aí impera a prescrição farmacêutica. Tem lugar melhor que esse, não há dúvidas. Não sei como são as praias por lá. Se há coqueiros na orla, com grande área balneável e uma ampla faixa de areia para caminhar ou mulheres que façam cafunés à beira-mar. Pois enjoei do asfalto, do óleo motor, das buzinas, dos gritos, das xepas e dos cuspes que nele recaem como subproduto da atividade humana quase nada social. Mas eu ainda sorrio, sim. Minha escrita é saneadora, terapêutica natural, minhas frases caem pelo ralo. A maior inspiração, encontra-se no banho sob o chuveiro. Aqui, à frente do papel, onde não há cheiro nem lavanda. Tanta gente desenhando o amor nos livros e eu não. Permaneço fora da arquibancada a produzir um tipo de lixo diferenciado, não reciclável, não orgânico. Seria antimatéria, se não viesse do imenso e vazio serrado do meu coração. Em mim, que se lembra dos outros, é apenas uma pequena parte do hipocampo...      



domingo, 25 de junho de 2017

Elegia Coisa Nenhuma



E tu, ainda resistente? Cadê os parabéns por mais uma semana de cidade? Ninguém dos teus te fala isso? Deixam para os aniversários, alguns até comemoram data de morte, ai ai ai. Nervos. Foi a válvula do forno programada para pifar que fez o técnico cobrar o que tu não ganhas, pois tu não visitas ninguém a serviço. Lembra da suspensão quebrada do teu carro econômico salva pelo cartão de crédito? Como se gasta dinheiro virtual nesta selva. Mas ele não é tudo, tem outras coisas da natureza humana. Como esse teu cálculo renal que logo agora recomeça a incomodar. Tentas compensar teus espasmos com as novas orquídeas do beiral da sacada oitavo andar. Na Farmácia Paraíso, as respostas que jamais virão encontram gabarito mesmo que provisório, paliativo. Não transaram no dia dos namorados, ela estava esquisita, culpou o estômago. Perto de onde fica o chacra que tu não entendeste bem os significantes. Que merda. Mais um fim de semana igual, estático no cinema. Fazes lá dentro o que farias no mausoléu da tua casa, sem liberdade. Põe a mão por dentro, lambuza os dedos de solidão, e sai como se tivesses alguém no peito. Água fria da pia, já nem valia limpar. Já não faz sentido jantar. Nem ir ao filme, tampouco namorar. A pizza gelada de amanhã, tem mais sabor que o próprio dia de hoje. Sem bordas, por favor. Porque ele só quer poder abrir um pouco a boca, mais nada...  


    

O Infinito das Frases Porcas












É preciso um pouco de liberdade neste inverno. Uso ceroulas com abertura frontal...
Quem é azul? O mar é espelho do céu, ou o céu é anteparo do mar? Dúvidas de um coração borralho...
Cem reais para cada cuspida que o jogador der na grama. É a ingerência da economia na educação.
Não me chame de palhaço, nem de idiota. Só porque me recuso a te xingar.
Namorado novo, novas bactérias.
Apaixonado, lambia o ânus dela. Assim como a chuva faz com o túnel do trem...
Ela contava com orgulho da dupla penetração. Quietinhos, o bate-saco era segredo mortal dos dois..
Não coloque silicone, prossiga ninfeta. Daqui a dez anos, a corcunda faria elipse com a bunda.
Bata na cara dela durante o sexo. Que a vida fará isso contigo a qualquer tempo.
Como é bom beijar mulher na boca. Disse a louca que se dividia em três no Natal..
Mais um herói nacional. Covarde citadino. Paladino do ego, beleza só de cego.
Foda-se se o aipim não fritou todo. É hora dos cozidos.
De quem é a secura na hora do ato? Boa pergunta.
Balzaquiana, ela só gozava uma vez. Mas por determinação, nunca por desejo.
Cinco da manhã na calçada metropolitana, velhos sonhos para novos desabrigados.
Minissaias de verão em pleno inverno aquecem o ponto do primeiro ônibus pra lugar nenhum.
Cuspa-me saliva, pois o catarro é particular e inalienável.
O dedo médio saiu com o brigadeiro indesejável fora de hora.
Quando não se tem mais o que falar, também não adianta mais escrever, pois tudo não passa da falta de sentir.





sábado, 24 de junho de 2017

Ponta de Estoque




Vazios de não sei quê
Vapores atmosféricos
Rios voadores
A ciência se redescobre
Minha solidão a acompanha...



Chuva fina corta o vento frio
A lesma na parede do banheiro
Chuveiro elétrico para água morna
Forno sem válvula de segurança
Ponkans geladas na fruteira
Travesseiro-cuba
Inverno é coisa para bastardos...



Aqui por perto não há gente
Mas não me falta gente
Falta gente por aí
Que tivesse calor humano a distribuir
Pois a frieza dos arredores
É barreira que me cerca
Muro que me esconde
Que me isola
E me faz mais ameno em mim...



A vida é curta,
    para quem não se realizou ainda
A vida é longa
    para quem não precisa disso..



Poeta
É um ente morto
Que renasce em suas múltiplas lápides..



O bom do isolamento
É que há menos coisas para morrer...



Sujeito,
    homem criminoso
Vai se trancar na praia
Entupir-se de livros
Para sonegar aprendizado..



Na parede da universidade,
    fotos dos reitores
Nas heras de seu quintal
    nenhuma folhagem
    não houve amores..



Os teus feitos
Para serem feitos
Não precisam de reconhecimento
Não espere reconhecimento
As pessoas lhe ignoram antes dele chegar..



Identidade
Ninguém sabe com o quê
Perdidos,
Em crises individuais
Anonimando o coletivo
Punhados, bandos, massa homogênea
Capitaneável manobra
Vagando sobre palavras inexistentes,
    e sentimentos inventados
    e razões espontâneas
Até que cada um,
Depare-se com tudo aquilo que ainda não quis...



Lembrei-me dela
Não me recordo como ela gozava
Talvez em silêncio
Talvez sem gozo
Posto que o sexo
Já não é assunto popular..



Coisas sem sentido
Caem sobre o papel
Caem dos meus olhos
Que não veem mais nada de bom



Se ele admirar a tua voz,
    poderá ser um músico
Caso ele vidrar em teu corpo,
    quem sabe seja um amante
Mas se ele contemplar as tuas mãos
    não passará de um poeta...




sábado, 17 de junho de 2017

Crônica Cotidiana 48



José e Maria 
Encontro arranjado. Ele foi por educação. Surpresa, estava tudo muito tranquilo e favorável ali no barzinho. Duas velas para quebrar o clima dos cupidos citadinos, essa subespécie que não para de se procriar no planalto gelado, só querem é rosetar quentinho. Bom papo, sorrisos à beça, não era gorda. Algumas cervejas com bolinhos de aipim recheados com carne seca. Na próxima, só os dois e o abate. Outro bar, outra cerveja, carne de onça. Papo mais íntimo, fotos, famílias, relacionamentos, pensamentos, tudo sobre a mesa. Isto posto, é hora de fornicar. Na casa dele, a música antecedeu a cama larga. Um gosto de cigarro remeteu-o para longe dali, anunciando que aquela seria a única vez. Genitália rosácea, bem depilada, a cinquentona se cuidava bem. A bundinha dela parecia a mesma de trinta anos atrás. Pele macia, ela não quis tirar a blusa, talvez a flacidez a incomodasse, ele não ligaria. Ela, queria porque queria meter de quatro, fez e gozou rapidinho. Alegando falta de lubrificação natural em função da idade, ela parou o ato após o gozo, cobriu-se. Compreensivo, ele a acolheu num abraço fraterno para conversarem mais um pouco. Falaram da vida, dos filhos, dos divórcios, da cama dele, ela adorou. Ele a deixou em casa. Os dois desencontros dali em diante, foram suficientes para que jamais se encontrassem. Foi recíproca, a não união. Tal qual o verdadeiro amor só é amor verdadeiro quando é recíproco. Ano seguinte, viram-se novamente num outro bar, aniversário. Ele lembrou que ela não gostava de sexo anal. Ela lembrou que ele tinha pênis grosso. Cumprimentaram-se como se não tivesse havido cama ontem. Não deu tesão em ninguém. Ela, queria namoro. Ele, não queria namorar. Nem sexo ele queria, talvez ela também não. Tivessem se cruzado numa lanchonete, num cinema ou no aeroporto, a coisa teria sido igual. Atualmente, já não é mais a circunstância de aproximação que dirige o destino de um encontro. É o que as pessoas querem e o que não querem. É aquilo que vem antes do encontro. É aquilo que está dormente, latente, ou até, ausente, mas sempre antes de qualquer coisa superveniente. Maria, a que goza rápido. E José, o que deixa de gozar. Vítimas voluntárias da ação daqueles 'pseudocupidos', ávidos por formarem casais, como se a vida a dois fosse fundamental para a existência humana. Para a sobrevivência sim, mas para a existência não. Sobreviver, implica em luta. Viver, não implica em nada. Há quem necessite sobreviver, e há quem simplesmente viva. Não bastam semelhanças, sejam de valores, gostos, hobbies, costumes, sons e cores. Uma companhia vai muito além das diferenças, mas infinitamente além das semelhanças. É um rumo desconhecido, eu sei. Mas só sei que é desconhecido. Ela se masturbou durante o gozo. Foi ele quem sugeriu. No chão do quarto, a pergunta sobre até onde vai a liberdade do sexo casual, sem compromisso. No box do chuveiro, a resposta... 



Contos Sem Providência



A Rua do Passado
A velha guitarra precisava de um conserto, digno. O luthier morava longe do presente, pertinho do passado, um pouco além. Ele foi até lá. Não quis usar localizadores, foi pelo instinto. Cortando algumas ruas do bairro Santa Quitéria, algo veio chegando com o vento frio pela janela. Sensação estranha, única, um misto de presença e ausência. De repente, parou na frente de uma casa: era ali. A fachada estava reformada, obviamente. Mas não impediu que a tal sensação se traduzisse em lágrimas. Naquele número, havia uma família. Que recebia outra parte da família. Muita gente, naquele saudoso tempo, confraternizando entre saborosos churrascos e sobremesas coloridas. Tempo em que as pessoas se visitavam com naturalidade, espontaneidade, vontade, coisas raras hoje em dia, superadas pela virtualidade das relações. A criançada correndo, brincando. Os tios assando, as tias na conversa, o avô querendo ir embora cedo. Ele saiu dessa onda de memória, não convinha ficar ali olhando a casa nos dias de hoje. Os óculos escuros foram providenciais, para maquiar a reação sobre a lembrança de tanta vida, conjunta com tantas mortes. A rua continua, vem uma próxima esquina e mais adiante a casa do luthier. Na volta, uma volta pelo bairro das festinhas de adolescente. O primeiro beijo na boca, ninguém esquece, tampouco a música que tocava, “Easy”, do Lionel. Fácil ou belo como o sol da manhã? O beijo ou a vida? Ninguém avisa o que vem pela frente, vire-se. De um passado mais recente, uma das clínicas onde trabalhou algum tempo, talvez a melhor. Já mudou de dono e de nome umas cinco vezes, a boa recordação era dos pacientes e de poucos colegas. Mais adiante, naquela rua sem pedrinhas de brilhante, o clube da infância. Os primos e amigos que ali frequentavam, as piscinas, as canchas de futsal, os saraus de sábado. Dali, não havia saudade. Lá para cima, o estádio do clube do coração. Modernizado, também não impediu lembrar-se dos pães com bife sob os pinheiros de antigamente, a mudança de lado no intervalo, era quase tudo bucólico. Agora, a imponência de metal & concreto protegendo a modernidade através da tecnologia do conforto, um tanto inútil para o propósito, mas tudo bem. Adiante, do lado esquerdo, na frente da igreja, a pracinha da quadra de areia já no fim da adolescência, os amigos dali que não mais estão. Tudo isso, em quinze ou vinte minutos de carro. Talvez meia hora ou ainda quarenta anos. Um tempo incontável se passou naquela tarde. E a certeza de que nada voltará. Se soubéssemos disso, talvez tivéssemos aproveitado melhor os momentos, as companhias, a vida. As pessoas, os amigos, os parentes, as festas e os almoços. Tudo. Mas isso não se ensina. Vamos aprendendo, à medida que as coisas morrem. Enquanto estão vivas, parecem eternas. Parece que não precisamos nos dedicar, visitar, olhar nos olhos, conversar. Parece que não há amanhã. Que as noites não se interpõem entre os dias. Parece não haver tempo. Então, nossa omissão ou nossa ação equivocada inicia o processo de separação de todas as coisas vivas. Elas continuam, mas cada vez mais distantes. Vamos embora dali por outras ruas, outros caminhos dentro da cidade. E não voltamos mais. O que volta, é só a saudade como se fosse sol. Trazendo algumas lágrimas como se fosse chuva. É a natureza, compensando a inabilidade dos humanos em fazer com que seus valores, lhes afastem daquela coisa chamada consciência. Consciência, parece ser algo que se encontra sempre no começo das ruas... no princípio das relações... e, tardiamente, nos fins dos caminhos

 "Yesterday and Today" - YES - Piano cover by Eugene Alexeev 



Vitrola 78 rpm


Dancing in the Dark - Bruce Springsteen - Morgan James cover




segunda-feira, 12 de junho de 2017

Crônica Cotidiana 47



Pombal Wizard  
Tardinha. Frio polar. Café, uma xícara cheia, aqui. Lá, namorados se encontram e esquentam o fim do dia. Vão juntos e a sós para todos os lugares, populares para serem vistos, particulares para se verem. Na capital da vergonha, sobra coragem para comemorar a data, trocar presentes, reforçar laço e quem sabe planejar amanhãs. Construção em tese. Será que esquecem por este momento os tijolos quebrados? Onde estão? Já na caçamba ou ali no canto da parede inacabada? E as pedras? Dentro do caminho da casa dos sonhos ou da casa real? Ah, não... pode haver apenas flores. Flores azuis, amarelas, brancas, quase plantas de tão maduras. Desnecessário perguntar se existem frutos do ventre, o vínculo independe disso, é departamento do sentimento. Pois é, que alegria mais uma data neste dia. São os dois em tempo presente. Basta? O cabernet sauvignon assegura a solidez do relacionamento? Mas e se a perspectiva se liquefaz? Qual o futuro dos pombos na cidade? Uns dizem que é evoluírem feito feitiçaria até se transformarem em gaivotas marinhas, outros não reconhecem a condição bestial de defecar sobre os ombros transeuntes. Estes, poucos, mesmo poluindo estão aparecendo. Superficialmente, diria Stevie Wonder. Porque as igrejas nada lhes asseguram, bem como a escola, o estado e qualquer outra instituição em decadência sem elegância. Preocupo-me não com os namorados. Mas com suas relações sociais. O que eles farão da união, em âmbito interno e principalmente externo. Como será o enfrentamento dos inimigos dos casais, ou seja, a batalha contra a inveja terrorista do norte, a insegurança conspiradora do leste e o ciúme rebelde local. Onde buscarão apoio. Se com os amigos, mas os amigos verdadeiros não mostram o que fazer e sim as armas. Se nos psicólogos, que também não são gurus, apenas demarcam o terreno quando profissionais. O chão de casa, é competência de cada um. Antônia gostava da inteligência de Josué, teve dois filhos com ele. Mas os inteligentes são fracos na rua, na guerra e na fazenda; ela queria alguém dominante. Ele era muito peludo, falava baixo e gostava de madalena, o prato que vai batata cozida sobre carne moída. Imperfeito, errante e sexual, ele pensava na lua, na paz e num rancho fundo. Foi-se ela, embora com um marombado da academia, mais novo, ainda estudante de administração, para no futuro tocar a empresa transportadora do pai rico. Quando o primo dele a viu correndo pelo bairro junto com o garotão, ela explicou que não passava de um personal. Só que não era trainer, era lover, ela omitiu na base da meia-verdade. Antônia e Josué foram namorados por oito anos. Enganaram muita gente fingindo serem felizes. Enquanto ela masturbava-se na jacuzzi, ele ia às casas de massagem com complemento final. Os mais enganados, foram eles mesmos. Preocupo-me com os namorados em suas relações sociais. O tempo que perdem e assim desprezam. Logo, o personal desistirá da coroa em prol de mais uma franguinha depenável. Mais um pouquinho, e os filhos deles compreenderão o desenlace. Por último, Josué se definhará na base de um benzodiazepínico mais em conta. Esta inabilidade em lidar com tempo e espaço, ainda vai ludibriar muita gente. Não o comércio, nem as academias, tampouco os escritores. O café esfriou no segundo parágrafo. Meu coração, contêiner vazio na cidade antártida. Sensação térmica de dois graus, marcando cinco na escala que ouço no rádio. Já não desperdiço mais o tempo. Nem o espaço. Meu problema, é a outra metade da xícara de café...   




segunda-feira, 5 de junho de 2017

Mondo Punto





Vereda Subtropical



Respeitem os enamorados!
Porque é preciso muita força,
    para sustentar tanta ilusão
Ou é preciso toda a insensibilidade
    para justificar tanta conveniência...


Voltei ao deserto
Onde finjo ser minha praia
Onde tudo é oásis
E os castelos de areia,
São levados pelo vento
Não há tempo,
    Ou água para inventar...


Os mendigos
Não necessitam paladar...


As unhas do violão
Engatam nos cobertores,
    nos clitóris,
    e onde mais eu pensar em me aquiescer...


Vontade de ser sozinho
Apenas estou
Mas falta pouco..
Os outros,
Escoram-se nas suas companhias                                                                                                                           
Ou estão apoiados em coisa nenhuma..


Não busco a felicidade
Tampouco o amor
Eu só desejo a paz
Seja ela o que for...


Se depois de um tempo,
    a poesia volta
Eu apanho dela
Bate-me na cara, nas mãos
Feito velha mestre
Indignada com meu abandono
Revoltada com minha ilusão
Vou para o canto da vida
Repensar os porquês,
    de minha fuga irracional...


Como todo mundo faz.
Juntaram as pequenas coisas
Compraram móveis novos
E foram destruir-se entre paredes...


Não me peça sorrisos
Acabei de sair de uma relação
Onde usei a boca
Para libertar a lágrima
Contida pela sociedade
Que mal sabe o que é alegria..


Refluxo
Insurgência sabinada do organismo
Que não quer engolir esta vida...


Cemitério
Mar sem água
De barcos enfileirados
Porto de partida
Para o continente do céu..


Polacas
A minha sina
Morro só
Inútil rebelde...