sábado, 17 de junho de 2017

Crônica Cotidiana 48



José e Maria 
Encontro arranjado. Ele foi por educação. Surpresa, estava tudo muito tranquilo e favorável ali no barzinho. Duas velas para quebrar o clima dos cupidos citadinos, essa subespécie que não para de se procriar no planalto gelado, só querem é rosetar quentinho. Bom papo, sorrisos à beça, não era gorda. Algumas cervejas com bolinhos de aipim recheados com carne seca. Na próxima, só os dois e o abate. Outro bar, outra cerveja, carne de onça. Papo mais íntimo, fotos, famílias, relacionamentos, pensamentos, tudo sobre a mesa. Isto posto, é hora de fornicar. Na casa dele, a música antecedeu a cama larga. Um gosto de cigarro remeteu-o para longe dali, anunciando que aquela seria a única vez. Genitália rosácea, bem depilada, a cinquentona se cuidava bem. A bundinha dela parecia a mesma de trinta anos atrás. Pele macia, ela não quis tirar a blusa, talvez a flacidez a incomodasse, ele não ligaria. Ela, queria porque queria meter de quatro, fez e gozou rapidinho. Alegando falta de lubrificação natural em função da idade, ela parou o ato após o gozo, cobriu-se. Compreensivo, ele a acolheu num abraço fraterno para conversarem mais um pouco. Falaram da vida, dos filhos, dos divórcios, da cama dele, ela adorou. Ele a deixou em casa. Os dois desencontros dali em diante, foram suficientes para que jamais se encontrassem. Foi recíproca, a não união. Tal qual o verdadeiro amor só é amor verdadeiro quando é recíproco. Ano seguinte, viram-se novamente num outro bar, aniversário. Ele lembrou que ela não gostava de sexo anal. Ela lembrou que ele tinha pênis grosso. Cumprimentaram-se como se não tivesse havido cama ontem. Não deu tesão em ninguém. Ela, queria namoro. Ele, não queria namorar. Nem sexo ele queria, talvez ela também não. Tivessem se cruzado numa lanchonete, num cinema ou no aeroporto, a coisa teria sido igual. Atualmente, já não é mais a circunstância de aproximação que dirige o destino de um encontro. É o que as pessoas querem e o que não querem. É aquilo que vem antes do encontro. É aquilo que está dormente, latente, ou até, ausente, mas sempre antes de qualquer coisa superveniente. Maria, a que goza rápido. E José, o que deixa de gozar. Vítimas voluntárias da ação daqueles 'pseudocupidos', ávidos por formarem casais, como se a vida a dois fosse fundamental para a existência humana. Para a sobrevivência sim, mas para a existência não. Sobreviver, implica em luta. Viver, não implica em nada. Há quem necessite sobreviver, e há quem simplesmente viva. Não bastam semelhanças, sejam de valores, gostos, hobbies, costumes, sons e cores. Uma companhia vai muito além das diferenças, mas infinitamente além das semelhanças. É um rumo desconhecido, eu sei. Mas só sei que é desconhecido. Ela se masturbou durante o gozo. Foi ele quem sugeriu. No chão do quarto, a pergunta sobre até onde vai a liberdade do sexo casual, sem compromisso. No box do chuveiro, a resposta... 



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