segunda-feira, 12 de junho de 2017

Crônica Cotidiana 47



Pombal Wizard  
Tardinha. Frio polar. Café, uma xícara cheia, aqui. Lá, namorados se encontram e esquentam o fim do dia. Vão juntos e a sós para todos os lugares, populares para serem vistos, particulares para se verem. Na capital da vergonha, sobra coragem para comemorar a data, trocar presentes, reforçar laço e quem sabe planejar amanhãs. Construção em tese. Será que esquecem por este momento os tijolos quebrados? Onde estão? Já na caçamba ou ali no canto da parede inacabada? E as pedras? Dentro do caminho da casa dos sonhos ou da casa real? Ah, não... pode haver apenas flores. Flores azuis, amarelas, brancas, quase plantas de tão maduras. Desnecessário perguntar se existem frutos do ventre, o vínculo independe disso, é departamento do sentimento. Pois é, que alegria mais uma data neste dia. São os dois em tempo presente. Basta? O cabernet sauvignon assegura a solidez do relacionamento? Mas e se a perspectiva se liquefaz? Qual o futuro dos pombos na cidade? Uns dizem que é evoluírem feito feitiçaria até se transformarem em gaivotas marinhas, outros não reconhecem a condição bestial de defecar sobre os ombros transeuntes. Estes, poucos, mesmo poluindo estão aparecendo. Superficialmente, diria Stevie Wonder. Porque as igrejas nada lhes asseguram, bem como a escola, o estado e qualquer outra instituição em decadência sem elegância. Preocupo-me não com os namorados. Mas com suas relações sociais. O que eles farão da união, em âmbito interno e principalmente externo. Como será o enfrentamento dos inimigos dos casais, ou seja, a batalha contra a inveja terrorista do norte, a insegurança conspiradora do leste e o ciúme rebelde local. Onde buscarão apoio. Se com os amigos, mas os amigos verdadeiros não mostram o que fazer e sim as armas. Se nos psicólogos, que também não são gurus, apenas demarcam o terreno quando profissionais. O chão de casa, é competência de cada um. Antônia gostava da inteligência de Josué, teve dois filhos com ele. Mas os inteligentes são fracos na rua, na guerra e na fazenda; ela queria alguém dominante. Ele era muito peludo, falava baixo e gostava de madalena, o prato que vai batata cozida sobre carne moída. Imperfeito, errante e sexual, ele pensava na lua, na paz e num rancho fundo. Foi-se ela, embora com um marombado da academia, mais novo, ainda estudante de administração, para no futuro tocar a empresa transportadora do pai rico. Quando o primo dele a viu correndo pelo bairro junto com o garotão, ela explicou que não passava de um personal. Só que não era trainer, era lover, ela omitiu na base da meia-verdade. Antônia e Josué foram namorados por oito anos. Enganaram muita gente fingindo serem felizes. Enquanto ela masturbava-se na jacuzzi, ele ia às casas de massagem com complemento final. Os mais enganados, foram eles mesmos. Preocupo-me com os namorados em suas relações sociais. O tempo que perdem e assim desprezam. Logo, o personal desistirá da coroa em prol de mais uma franguinha depenável. Mais um pouquinho, e os filhos deles compreenderão o desenlace. Por último, Josué se definhará na base de um benzodiazepínico mais em conta. Esta inabilidade em lidar com tempo e espaço, ainda vai ludibriar muita gente. Não o comércio, nem as academias, tampouco os escritores. O café esfriou no segundo parágrafo. Meu coração, contêiner vazio na cidade antártida. Sensação térmica de dois graus, marcando cinco na escala que ouço no rádio. Já não desperdiço mais o tempo. Nem o espaço. Meu problema, é a outra metade da xícara de café...   




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