Ao meu redor, próximas ou
aproximadas. E sempre assim. Todas as pessoas, ácidas, sórdidas, dissolvendo-se.
Parecem humores, fluidos em tubos de ensaio, e o mundo é o meio de cultura que
receberá seu conteúdo em formato líquido, se espalhando e respingando nos
outros. Oscilam entre seu pH exponencial quando na crista, e omissões,
indiferenças e silêncios quando no vale de sua onda. Não me adaptei a elas. E
nem vou. Também porque não quero. Permaneci à deriva, de tudo e de todos. Não passaram
além da minha pele. Pela rigidez que eu criei como defesa. Prevenção ao cúmulo. Força em relação às
sensações, frieza em face das desesperanças, como reação puramente física a
tais presenças e ausências. Fiz-me equipamento de proteção individual
ambulante. Não me deixo contaminar. Senão, o gelo não derreteria sob o sol. Ou
o enfrentamento é diferente e proporcional, ou a submissão e a desolação tomam
conta. Depois, chamam de depressão e aí impera a prescrição farmacêutica. Tem
lugar melhor que esse, não há dúvidas. Não sei como são as praias por lá. Se há
coqueiros na orla, com grande área balneável e uma ampla faixa de areia para
caminhar ou mulheres que façam cafunés à beira-mar. Pois enjoei do asfalto, do óleo motor, das buzinas, dos gritos, das xepas e dos cuspes que nele recaem como subproduto da atividade humana quase nada social. Mas eu ainda sorrio, sim. Minha escrita é saneadora, terapêutica natural, minhas frases caem
pelo ralo. A maior inspiração, encontra-se no banho sob o chuveiro. Aqui, à frente do papel, onde
não há cheiro nem lavanda. Tanta gente desenhando o amor nos livros e eu não.
Permaneço fora da arquibancada a produzir um tipo de lixo diferenciado, não reciclável,
não orgânico. Seria antimatéria, se não viesse do imenso e vazio serrado do meu
coração. Em mim, que se lembra dos outros, é apenas uma pequena parte do hipocampo...
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