PEDRAS BRANCAS
A densa garoa quebrava o
silêncio na tarde fria do litoral de agosto. Na varanda da casa perto da praia,
olhando para o morro, ele ouviu o chamado do lado oposto. Correu para lá,
deparando-se com grandes ondas no mar revoltoso e deserto por isso. Sem parar, desvencilhou-se das vestes cotidianas e mergulhou em direção à voz
que pedia por ele sem palavras. A baixa temperatura da água e o perigo
evidente, foram afastados não se sabe como. Onde não havia pé, a correnteza
lateralmente o conduzia. Era estranho, pois se sentiu completamente abraçado
por aquela situação como nunca antes o fora por afeto em sua vida: enfim, a
natureza respondera incorporando-o como elemento integrante da paisagem. Sua
característica vital se fez dominante, não havendo ninguém na orla em razão do mau tempo, portanto a
observá-lo, naquele vai e vem de vagas escuras e turbulentas, deixando-se levar por dezenas de minutos.
O raso estava fundo o suficiente para mantê-lo apenas com a fronte emersa
naquela praia agora de tombo. Pronto...ele atendera a solicitação do apelo silente. Foi então que começou a escutar a si mesmo. Revivera os momentos mais
importantes de sua existência, lembrando das pessoas que marcaram positivamente,
os traçados sinuosos de seu destino. Ligeiramente entristeceu, é verdade, mas
não foi preciso chorar diante de tanta elucidação. Porque era apenas como se estivesse partindo de um
lugar determinado: indo embora, foi que ele se encontrou. Uns dirão prontamente
que foi suicídio, pelo imediatismo. Os impressionáveis que foi acidente, pelo
hábito da sugestão. Os reflexivos, souberam mais tarde que foi apenas um fato, única
e exclusivamente em função de sua hora. Porque a espécie humana não cessa de rotular
seus semelhantes, nem mesmo quando deixam de sê-lo...
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