"NÔMADES"
[Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de
histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés,
para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e
dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a
distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa
viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz
ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos
faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e
simplesmente ir ver.]
- AMIR KLINK -
- AMIR KLINK -
[Em dias contemporâneos, ainda há gente assim. São aqueles que se voltam
para sua própria natureza, mutável como são as transformações do universo. Não
chega a ser um cumprimento a uma determinada lei, o é por naturalidade, coisa
espontânea, reflexo incondicionado. Nem mais se discorre sobre isso, tal a sua
normalidade, apesar de raro. Repugnância à submissão, abomináveis costumes e
tradições conservadores. Ignora-se a existência e o sentido das estradas, das águas, dos céus. Não,
não e não. É por tudo isso e muito mais ainda que eu não permaneço. Até fico
mais do que deveria às vezes, um pouco além dos meus limites, reconheço. Mas
chega a hora de partir. Ir embora de uma residência, de um bairro, de uma
cidade, de um país. Largar uma profissão, um hobby, uma mania, uma dependência
qualquer. Desfazer-se de uma tradição, um costume, uma rotina. Dar adeus ao
coleguismo, a uma amizade, um vínculo relacional, um parentesco, à própria família. Afastar-se
de um animal, um canto, uma catarse, um equilíbrio. Romper os laços havidos com
um sentimento, um afeto, uma vontade, um desejo, um sonho, uma utopia. Encerrar
um espaço, uma festa, sensações e pensamentos. Não há hora certa para isso, pois
não é questão de tempo. O tempo, começa depois da partida. O mundo é um
labirinto de nascentes, a maioria escondidas, sem devermos procurá-las, posto
que nos cabe é apenas estar lá fora. As tais novas possibilidades, existem sim,
desde que nos tornemos novos, renasçamos, nos disponhamos a tanto. Cinco
décadas, e eu me sentindo tão novo quanto eu concebo os meus princípios. Eu vi
muita coisa, senti pouco. Havia muita sensibilidade em mim para que eu pudesse
considerar qualquer sentir relevante. Então, eu cheguei novamente à beira da
minha sempre estrada. É aqui, sobre o caminho, que eu me realizo em ações,
depois da remissão dos quartos, teclados e pesares relacionais intentados. A
extensão do meu eu não se deu da boca pra fora, e sim das mãos para frente.
Escrevi demais, até provocar uma lesão de esforço repetitivo em minha
consciência. É vez de me licenciar de mim mesmo, de não contração. Acompanhar
as leis cósmicas, expandir para libertar. Nem sei para onde vou. Porque todo
nômade, não possui lugar para amar, seu espaço é o movimento, onde não cabem quaisquer despedidas. Depois da
temporada de recolhimento, onde o turbilhão de palavras servia para concentrar
energias no encontro do autoconhecimento, agora é botar à prova o aprendizado,
conseguido a duras penas lidando com indiferenças, silêncios, distâncias, ausências e não empatias.
Paradoxo, mas isso tudo fortalece, apura o discernimento e alumia a vida não
apenas ao nosso redor, mas principalmente mostra o que havia por dentro: ninguém, ao lado de tudo.
O nômade não busca um alguém. Ele apenas vai, sem ninguém, por consideração àquele tudo...]
- DIAMOND FISHER -
- DIAMOND FISHER -
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