Coletânea MANICÔMIO RESIDENCIAL
[Três tipos
de pessoas fazem do desamor o alimento para sua sobrevida. Os músicos, porque a
inspiração vem de lá. Os poetas, porque a inspiração não sai de lá. E os
loucos, porque a inspiração é sempre metade. Por isto, não se pode confundi-los
com ninguém, apenas entre eles mesmos.]
[Poeta, um ser invertido. Porque o pensamento, está no porão da casa onde mora. No sótão, habita sua loucura...]
[O poeta,
É o habitante mais infiel
Do seu mundo de solidão.]
[O
poeta é o convidado exclusivo
Da
festa temporária de sua própria existência..]
[O poeta que é feliz
Já não é mais poeta
Ou porque matou sua inspiração
Ou por ter desfalecido..
Pois os
poetas jamais sucumbem,
E nunca
regozijarão
Eles sempre
se relacionam muito bem com a morte das coisas..]
[O
poeta não é feliz
Fosse
feliz não seria poeta
Seria
apenas um entregador de flores
De
uns para outros
Sem
passar pelo seu jardim de ilusões..
Mas
não é a ilusão que alimenta o poeta
Ele
apenas sorve a realidade do impossível]
[Poetiza,
Lembra
que tua alma é barroca
Procurando conciliar os opostos que te rodeiam
Bastardos
que ignoram teu penar..
Deixa
disso
E
parte no sentido da tua própria unificação..]
[Os
poetas podem amar as poetizas
Mas
elas podem apenas gostar deles
Pois
se houver amor entre ambos
Deixa-se
de ser poeta
E
passa-se a estar comum..
E
deixa-se de ser poetiza
Quando
alguém não poeta, que ela gosta, passa a amá-la..
Porque ser
poeta é amar sem ser correspondido
E ser
poetiza é gostar sem ser amada..]
[O
poeta
Não
escreve sobre a mulher que ama
Porque
vem do desamor,
O
sangue que passa pelas suas mãos...]
[O
Poeta sabe que não ama
Mas
ele vai até onde não existe
Só
para confirmar as impossibilidades..
O
Poeta sabe que não será amado
Mas
ele vai até quem não o ama
Só
para negar tais possibilidades..
O
Poeta apenas vai
Porque aonde ele mora
É
um lugar quase inexistente...]
[O
poeta nada espera
Porque
ele sabe que nada fica,
Dele
tudo se vai..
Mas
ser poeta,
É
ficar em permanente vigília,
Atento
àquilo que passa..
É
quando o poeta vive,
No
instante em que toca a superfície da vida fugaz
E
ela vai quase imediatamente embora,
Sempre
incólume,
De
onde ele jamais permaneceu...]
[Poetas
não vivem
Nem
sobrevivem
Apenas
colecionam as mortes de tudo...]
[Poeta
Por
excelência, o mais solidário dos seres
Suas
palavras partem por alguém,
Mas
nunca chegam a ninguém..
Têm
elas a mesma natureza do vento
Voo
permanente, passando por muita coisa,
Em
direção a lugar nenhum...]
[Poucas horas para a alvorada
E eu aqui tentando adormecer minha inspiração
Difícil essa vida de poeta,
Um ser que é órfão do tempo...
Mas é
pai de sua virtude
Mãe das
nossas palavras
E irmão
de todas as coisas que vão embora...]
[O poeta é um contínuo viajante
A levar de carona um estranho
Alguém que ele não vê
Mas que entra em seu veículo,
E desce um pouco mais adiante
Ocasião,
Para que se repita o gesto
Pois é sensação indescritível,
Poder ser solidário com a própria solidão.]
[O poeta,
É um grande cão não adestrado
Que fugiu para a periferia dos acontecimentos da doméstica
civilização
Lá,
É onde nada lhe ocorre
Pois tudo sempre poderia ter sido
Mas nunca será..]
[O poeta é um ser descompensado
Cujo coração insulínico
Pede para sua alma escrever
Sobre aquilo que não pode sentir..]
[O poeta, é o único ser capaz de decifrar a beleza. Porque ele não leva consigo a preocupação de vivê-la: basta-lhe a contemplação...]
[Eu escrevo, por nenhum motivo.
É apenas o meu jeito de viver o que eu não vivo. Sei que isto não me leva a
lugar algum. Mas eu não quero parar nas limitações dos lugares, sua clausura ou
sua certeza. Somente desejo ir, por não querer ficar..]
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