segunda-feira, 2 de outubro de 2017

150 Convidados












Desafio, isso de escrever em terceira pessoa sobre quem se conhece tão bem. Um afastamento temporário da personagem que é real por aqui. Precisa-se falar sobre os limites de alguém enquanto gente, indivíduo. Esqueça-se o gênero, é dessas horas que ele não entra em questão, permanece apenas o humano do ser. Então, ele foi naquela festa não como homem, apesar de que ninguém o viu como pessoa. Um homem, pelo jargão tradicional, necessita de complemento, que nos dias atuais pode ser outro alguém, qualquer. A cartilha do mundo é dúplice. Quem anda só, é como se fosse zero, ninguém, menos um até. Burburinhos no salão, feito “onde está a mulher dele? ah, é divorciado... mas não arrumou outra mulher? nem uma namoradinha? por quê? hummm, estranho... será que virou gay? ou vai ver que é um traste mesmo, ninguém quer (risos)”. Pensou nas concessionárias, nos hipermercados, nos shoppings e nas lojas de departamentos, inclusive na feirinha da Ordem, onde “arrumar” isso, e como se companhia fosse mesmo “isso”, passível de aquisição. Não. A sociedade está se tornando pequena demais para ele e a sociedade, um quase faroeste planaltino, pinheiral, provinciano. Quando os solitários vão em grandes festas, eles já chegam acompanhados, de sua solidão. Mas a turba não sabe disso; e ficam olhando, cochichando, especulando. Ele achou melhor não ir dançar na pista, não estava a fim, ficou à mesa com os seus parentes. Fez o social, conversou com todos, até lavou a alma como dizem, em relação a alguns perrengues do passado, soltou educadamente o verbo numa determinada mesa, eles calaram sem argumentos, mas tudo "de boa" (aculturação paulistana). Bebeu quase nada, no fim da festa. Todo mundo animado, comandado por um casal de dançarinos profissionais, seguindo a coreografia da vez. Tudo estava lindo. A decoração, que ele não entendia muito, um espetáculo o tal de tiffany que para ele era apenas turquesa. Mas aquelas poucas outras pessoas continuavam com suas dúvidas, dava para ver nos olhos delas. Ele não se incomodava com isso, mas gostava de registrar, tal comportamento mental. O preconceito, é um dos piores empecilhos de uma sociedade não inteligente. Enquanto houver gênero, ou seja, enquanto os sujeitos estão à disposição de novos enlaces ou de simples manutenção de enlaces antigos com outros sujeitos, as pistas de dança estarão sempre cheias. Fim de baile, no caminho de volta um acidente, com outras pessoas, de outra festa. Ele levava no carro, as lágrimas que conteve durante toda a notte, para libertá-las em sua casa, um refúgio adequado, assim faz uma pessoa. E para tanto, nem precisa haver comemoração de algo, basta passar o dia. Quatro horas da manhã, ele viu as fotos dela, desejou-lhe um afetuoso boa noite, e foi dormir... 


Nenhum comentário:

Postar um comentário