segunda-feira, 16 de outubro de 2017

iPhone N




A ciência já avisa que, num futuro próximo, o homem viverá dentro do seu próprio computador. Atravessamos hoje, uma fase de transição na qual a tecnologia já estabeleceu uma relação de dependência psíquica entre ele e o smartphone. Ainda podemos ver as pessoas totalmente conectadas aos aparelhos em suas mãos, não importa onde estejam. Mas virá o dia em que a vida, inteira, vinte e quatro horas por dia, se desenvolverá dentro dele. Longe dele, não haverá vida. O trabalho, a família, a escola, as instituições, tudo estará acessível às digitais humanas que controlam ou não os sistemas Android & outros, vice-versa. De social, a inserção passará a ser digital. Inserção digital. Conhecer pessoas, arrumar emprego, água, alimentos, conversas, compras, viagens, diversão, tudo por ali. A TV e os home theaters nos iniciaram na clausura domiciliar, no confinamento, manipulado pelos grandes meios de comunicação. Precisava algo mais forte para fazer valer ou consolidar a mudança paradigmática que abandonou a consciência. Está aí. A web e sua grande rede mundial. Já que eu não posso ir à África, o teclado me leva até lá. Vou e volto como se tivesse ido, pois a mecanicidade da coisa desvalorizará o fator presencial. Muitos outros valores se perderão no tempo, pela mudança de espaço, agora dimensional. Aquilo que faltar, as impressoras de última geração modelarão em instantes à sua frente, em resinas, siliconas ou elastômeros multi-D. Você pode visitar alguém entrando em uma de suas redes sociais. Se tiver saudade, mande mensagem. Você pode projetar uma foto sua aos pés da Torre Eiffel, não vão saber que você apenas mexeu os dedos para isso. Morrerão o Turismo, as lembrancinhas e o diálogo interpessoal. A coisa chegará num ponto em que o Direito também morrerá, bem como as outras ciências então obsoletas. Haverá liberdade plena para se fazer o que se quiser na internet, por simples falta de controle. Num futuro próximo, você poderá amar sem sair de casa. Até porque amar já não será mais importante, a moda será o amor digital. Descompromissado, posto que é desconhecido. Ame quem quiser. Furte suas imagens, monte realidades virtuais em seus programas Windows com a pessoa que bem entender. O mundo aceitará esse tipo de sentimento. Só esse. Caso você apareça num restaurante segurando a mão de alguém, será considerado antigo, ultrapassado, démodé, esquisito, velho. Inventarão um jeito informático para que você demonstre sua monogamia, fidelidade, uma espécie de identidade artificial que o ligue a uma companhia, uma espécie de webcam registradora e compulsória. Não convém espalhar vírus pelos computadores. Isso evitará a promiscuidade mas não pelo caráter moral, e sim para não danificar os bites que lhe dominam. Mas não se preocupe, as relações serão bem mais tranquilas. Sem palavras orais, as teclas as substituirão. Você balançará na rede do enter ao del. Opções infinitas. É muito mais fácil viver sem valores, princípios ou virtudes. Mas prepare-se: você nunca mais será tocado por alguém. Morrerão os abraços, os beijos e os olhares. Vamos lá, digite uma boa noite para aquela morena que você ama. Depois, vá sonhar com um mundo em que já não fosse cibernético assim. Um mundo onde prevalecesse aquela coisa antiga, ultrapassada, démodé, esquisita e velha chamada natureza... 


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