quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Abrigos












A cidade que nos esfria. Ou seríamos nós os responsáveis pelo contrário. Mais um “ovo ou galinha” sem resposta. A região onde se localiza a cidade, um planalto, plano alto aonde venta mais e é mais frio. Quem sabe seja o clima, o causador de tanta frieza, frialdade para os poetas verdadeiros. Penso que cada qual com sua parcela de culpa nessa história. Fico com a tese do filósofo do Boteco Paranaense, que divide o mundo em dois tipos de gente: os construtores e os destruidores. Aqui, há muitos destruidores. Então, some-se a temperatura externa, com a frigidez interna. Esta, pode acontecer de várias formas, da indiferença à omissão, do desprezo à crueldade. Muita gente não percebe o poder destruidor da indiferença, do não reconhecimento, das inércias humanas. É porque em muitas vezes, o não construir implica em destruição. Quer saber se você é um ser construtor ou destruidor? Olhe para um terreno baldio. Se você lamentar por nada existir ali, você é um construtor. Se passar batido, é mais um tanto faz da destruição. Mesmo que você não destrua as coisas ao seu redor, porque neste tema, trata-se de coisas imateriais. As coisas imateriais, quando não construídas, podemos considerar caso de destruição. Chances, oportunidades, não aproveitadas. Sentimentos ignorados, laços enfraquecidos. Abortos de embriões. Morte de sementes. Tudo isso é exemplo de desconstrução. Estamos acostumados com as coisas que acabam, e não percebemos aquelas que não começam. É outra variante da morte. Seres humanos não sabem lidar muito bem com a morte, todas elas. Note-se, que não é questão de tempo, e sim de espaço. Pois o tempo traz, conjuga, oferece as oportunidades, mas as pessoas não abraçam, não semeiam, não regam, deixam ao léu do presente. Ou seja, devolvem ao tempo aquilo que ele lhes ofertou. Tal descalabro, não está livre de consequências. Mas como somos todos nós dotados de livre-arbítrio, fazemos das escolhas o direcionamento das nossas caminhadas. É uma pena, tantos espaços não habitados pela cidade fria. Tantos corações vazios. Sofás vazios, automóveis, mesas de restaurantes, bancos das praças, dos cinemas, dos cafés, boxes king size, passeios a sós. Só porque faz frio, dentro e fora das gentes. Isso provoca a não experiência, atrasa a maturidade, povoa de solidões a cidade. “Chácara - Belíssima Casa de campo no condomínio Resort Club Fazenda - Excelente imóvel com terreno 40x37,6 m. (1.504,00m²) e 198 m² de área construída, contendo sala com lareira para dois ambientes, cozinha, 3 quartos (sendo uma suíte); amplo espaço para salão de festas com churrasqueira e fogão a lenha, além de um mezanino que pode ser utilizado como salão de jogos – área de serviço, despensa, lareira, lavabo, mobiliado, quintal – ano de construção: 1994 – cidade de Piraquara”. Tantos desertos ao redor, que é melhor buscar um refúgio distante. Um lugar onde eu possa ficar do tamanho da paz. Onde eu possa plantar meus amigos, meus discos e livros e nada mais. Onde eu esteja seguro das intempéries desérticas, das quais jamais fui causa. Porque há um único fenômeno capaz de acarretar consequências para as não construções: a vida. 

"Shelter From The Storm" - Bob Dylan
by Emmylou Harris & Rodney Crowell





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