Meus
amigos, eles não são estórias. Quase não nos vemos mais. Mas eles surgem, de
vez em quando. Demonstram alegria nas redes sociais, mais ainda nos grupos fechados.
Entretenimento, entre aspas, explícito, assim por dizer. O que sei, é que é mundo
digital, virtual, artificial, até porque não deixa de estar no mundo, é um
recente paralelo no qual talvez possamos falar que vivemos. Então, eles
aparentam felicidade. Esposa, filhos, lar, profissão, cidade, país; não falam
do estado. Tudo parece estar bem para eles, não reclamam nada nesse sentido. E
se manifestam. Compartilham tais 'humores'. A maioria, tem a ver com sexo. Meus
amigos, adoram mulheres siliconadas, eles tiram sarro de mim, que não gosto
disso. Mandam vídeos, sabem que nem abro. Todos os dias, toda manhã, parecem
Pinduca na estação a esperar o trem que nunca parou. Filminhos rápidos com
mulheres objeto, parecem modernas bonecas de plástico, sendo penetradas por garanhões bem dotados,
sempre assim. Acho esquisito, não só pelo tamanho dos caras, mas principalmente
pela posição que colocam as mulheres nessas relações sexuais com roteiro Boca do Lixo. Todas
submissas, subjugadas, passivamente sucumbindo à força e aguardando a
ejaculação patriarcal, o trunfo. Não sei o que é pior, que se passa com meus
amigos. Se é inveja dos avantajados ou se é machismo não velado; adoração fálica,
será? Será que eles se veem naqueles atos? Será que se excitam com transas
mostradas numa tela do tamanho da palma da mão? Será que aquilo lhes faz algum
tipo de bem? Sem conotação moral alguma, eu pergunto orgânica ou
psicologicamente, como é que pode alguém ficar estimulado com isso. Pergunto
nada, eu mesmo respondo. Penso que eles não são felizes de alguma outra forma,
além de sexualmente. Fazem das redes, uma espécie de compensação, uma fugidinha
da realidade, um querer ser e autoafirmação. Os casais, é natural diminuírem a frequência de
relações sexuais, todos sabem. Mas dali para um smartphone, é algo bizarro. A
modernidade tardia parece mesmo concentrar tudo, agora na casa online. Se você
estiver sem sinal, ou offline, você está fora do mundo, desligado, incapaz de
agir. Esquecem-se que a vida na palma da mão também é a vida na ponta dos
dedos: superficial, virtual. Foram-se as vozes, os toques, os olhares e os
perfumes. Enquanto meus amigos passam as horas de folga a compartilhar imagens,
eu permaneço deslocado desse mundo deles, quase um marginal, um careta,
retrógrado, ultrapassado pelo tempo. Mas não me considero melhor nem pior que
eles, apenas estranho ao seu hobbie, quiçá este uma dependência psíquica. A maioria deles, não percebe as curvas do
caminho, tampouco as paisagens. Paisagens, são panorâmicas imagens. Elas são exclusivamente presenciais, portanto reais. Esses meus amigos têm medo & preconceito do exame de próstata, nunca fizeram. Esses meus amigos, pobres amigos,
ah se soubessem o que eu sei...
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