sábado, 30 de setembro de 2017

Longe do Mar


Naquela casa paranaense, não tem mais leite. Mel, nunca teve. Acabaram o sal de cozinha e o açúcar refinado, para sempre. Micro-ondas e cinzeiros, nunca terão. Naquela casa não tem cuia, bomba de chimarrão, erva-mate. Incrível, lá não tem televisão! Tem um monitor, que às vezes funciona como, mas TV padrão, não tem não. O freezer, é dentro da geladeira. Forno elétrico, nada. Uma vap... negativo. Tapetes, chaise longue, redes de armar, nada disso. Na verdade tem uma rede, mas está guardada. É... não tem um monte de coisas naquela casa. Não que falte, é que apenas não existe. Existe jardim, mas sem plantas nem flores. Existe uma ameixeira, sem frutos. Igualmente, um abacateiro. Não tem bidê, box de acrílico, ducha forte. Credo, não tem campainha naquela casa, número postal! Morreu um cachorro, restou uma cadela. Porta-retrato de paixão, tem não. Livros de romances, impossível. Mas então, o que é que tem naquela casa? Lá naquela casa tem silêncio. Tem paz, mas é a paz do silêncio. Tem tranquilidade, que também vem do silêncio. A única coisa que existe lá, que não tem relação com o silêncio, é a música. Alguém poderia dizer que essa música, vem da solidão. Eu digo que não sei. Seria o mesmo dessas discussões sobre quem veio primeiro. Pois não posso dizer que a música afasta a solidão, e nem que a solidão chama a música. Só sei, que é única forma de harmonia que eu sinto, há tempos, e nesse espaço. No reino de um só, ele é ao mesmo tempo rei e súdito. No mundo de um só, ele é ao mesmo tempo Deus e fiel. Portanto, aqui não tem estado nem divindade. Aqui não há sexo. Já fui homem. Penso que evoluí. Hoje não passo de uma simples pessoa... 

"Alfonsina Y El Mar" - Ariél Ramirez - by Norberto




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