Naquela casa paranaense, não tem mais leite. Mel,
nunca teve. Acabaram o sal de cozinha e o açúcar refinado, para sempre. Micro-ondas
e cinzeiros, nunca terão. Naquela casa não tem cuia, bomba de chimarrão, erva-mate.
Incrível, lá não tem televisão! Tem um monitor, que às vezes funciona como, mas
TV padrão, não tem não. O freezer, é dentro da geladeira. Forno elétrico, nada.
Uma vap... negativo. Tapetes, chaise longue, redes de armar, nada disso. Na
verdade tem uma rede, mas está guardada. É... não tem um monte de coisas
naquela casa. Não que falte, é que apenas não existe. Existe jardim, mas sem
plantas nem flores. Existe uma ameixeira, sem frutos. Igualmente, um
abacateiro. Não tem bidê, box de acrílico, ducha forte. Credo, não tem
campainha naquela casa, número postal! Morreu um cachorro, restou uma cadela. Porta-retrato
de paixão, tem não. Livros de romances, impossível. Mas então, o que é que tem
naquela casa? Lá naquela casa tem silêncio. Tem paz, mas é a paz do silêncio.
Tem tranquilidade, que também vem do silêncio. A única coisa que existe lá, que
não tem relação com o silêncio, é a música. Alguém poderia dizer que essa
música, vem da solidão. Eu digo que não sei. Seria o mesmo dessas discussões
sobre quem veio primeiro. Pois não posso dizer que a música afasta a solidão, e
nem que a solidão chama a música. Só sei, que é única forma de harmonia que eu
sinto, há tempos, e nesse espaço. No reino de um só, ele é ao mesmo tempo rei e
súdito. No mundo de um só, ele é ao mesmo tempo Deus e fiel. Portanto, aqui não
tem estado nem divindade. Aqui não há sexo. Já fui homem. Penso que evoluí. Hoje não passo de uma
simples pessoa...
Diametralmente oposta a qualquer ordenamento jurídico, DESUNIÃO ESTÁVEL é uma imaginária relação multiafetiva ousada entre a Poesia e a Música. Como esses valores estão em declínio nos dias pós-modernos, decidi promover impulsos de acasalamento sentimental entre ambas, com a substancialidade e a emoção que brota dessas duas formas de expressividade dos sujeitos na sociedade civil, ou seja, nascentes da natureza humana. Aos amantes, as cortesias da Casa.
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