Suicídio, é vento sazonal e que passa moderado
pelos campos dos escritores. Passa assim, porque lá não encontra obstáculos,
nem limites que o fizessem parar e levar alguém. Lá só existe o chão e o céu,
ainda em grandezas de infinito. Eles não morrem disso, os escritores. Antes, de
tifo ou tuberculose; hoje, de tédio ou remédios. O que realmente mata os
escritores? Os cientistas das academias da mente, mentem sobre a cabeça da
gente, criando novas doenças e portanto novos remédios. Eles conseguem enganar
os menos avisados, também os inadvertidos, que escrevem sem sentido, apenas por
escrever. Mas o que mata mesmo os escritores, é o fim de um texto: o fim de uma
prosa, um poema, de uma poesia, um livro. Ali, falece o escritor, aguardando o
renascimento no próximo escrito. Pois o tédio, que também possui natureza de
vento, só acomete os menos avisados e os inadvertidos. Os escritores, têm uma
defesa natural contra as mortes comuns aos mortais, as naturais, as por doença
ou devidas ao suicídio. É a solidão. A solidão é um antídoto específico, presente
naqueles que escrevem com sentido, ela também afasta os ventos contrários nos
campos dos escritores, sejam moderados ou não. Porque a solidão é a melhor companhia
para se passear por estes campos. Todavia, aparecem aqueles cientistas e os que
neles acreditam, para considerarem os escritores pessoas com alto potencial suicida. Qual o quê, isso advém dos medos que rondam essa gente, incapaz de
escrever, portanto de mergulhar em si mesmo, de refletir, de se expor, de
contar sobre aquilo que acontece e o que não acontece nas extensões dos seus campos.
Mas é porque eles não têm onde passear, eles têm obstáculos e limites, que
podem sucumbir a qualquer vento ou mudança. Seu chão não é de feito de campos,
são sim caminhos asfaltados e traçados com início, meio e fim, os quais são
percorridos obrigatoriamente seguindo placas indicativas por essa gente, que não escreve. Seu céu bate nos telhados,
nos arranha-céus, nos neons a nas nuvens, essa gente que não escreve. Não
escrever? Imagine que tédio é a vida de quem não escreve, por não ter nada para
contar, porque nada aprendeu ou nada deseja. Basta para eles, ficar desviando
dos obstáculos e divagando aquém dos seus limites, que já está bom. Coitados,
não sabem sobre a liberdade, que nos permite atribuir um valor imensurável à loucura,
um custo intangível à imaginação, e um sentido epistemológico à vida. Eu não
queria, mas o mundo contemporâneo é maniqueísta. Ainda aqui, inserido neste
chaos dual, tenho que me aliar ao inimigo e comentar que eu dividiria a
humanidade em dois tipos de pessoas: os escritores, e os vazios. Os vazios necessitam
preenchimentos, como companheiros, amores e demais gentes quaisquer – sem falar
nas coisas – a ocuparem suas lacunas existenciais, seus vácuos afetivos; suas vontades
e ansiedades, manias e hobbies; suas camas e documentos, tempos e espaços. Vazios,
ventos, suicídio, tédio, nada disso é compatível com o mundo vivente dos
escritores. Porém, há quem diga que um escritor também morre quando se encerra
uma determinada inspiração. Outro engano. Enquanto os não escritores precisam
amar condicionalmente, os escritores, de modo incondicional se ocupam da
inspiração. Os escritores não se matam. Pois para eles a morte é diária fonte
de inspiração, que brota e seca, ao fim de cada texto. O suicídio seria acabar
com a inspiração, com os textos, com os passeios infinitos pela liberdade, pela
loucura e pelos corajosos campos da vida. Não acredite neles, caro leitor. Os cientistas
das academias da mente, são teóricos que jamais escreveram uma linha. Eles só
fazem montar os obstáculos deles nos campos dos outros, estabelecendo limites
alheios à sua (leitor) propriedade de escrever. Por isso, os homens das farmácias,
dos consultórios e dos hospitais andam de branco. É porque a mentira, ela é
transparente... é da cor do vento... e de todas as mortes que podem alcançar os
não escritores. Escutou? Foi o suicídio que por aqui passou quietinho, não
parou e foi pairar covardemente sobre aquela gente que nada escreve...
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