segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Cartas Para Não Escritores



Suicídio, é vento sazonal e que passa moderado pelos campos dos escritores. Passa assim, porque lá não encontra obstáculos, nem limites que o fizessem parar e levar alguém. Lá só existe o chão e o céu, ainda em grandezas de infinito. Eles não morrem disso, os escritores. Antes, de tifo ou tuberculose; hoje, de tédio ou remédios. O que realmente mata os escritores? Os cientistas das academias da mente, mentem sobre a cabeça da gente, criando novas doenças e portanto novos remédios. Eles conseguem enganar os menos avisados, também os inadvertidos, que escrevem sem sentido, apenas por escrever. Mas o que mata mesmo os escritores, é o fim de um texto: o fim de uma prosa, um poema, de uma poesia, um livro. Ali, falece o escritor, aguardando o renascimento no próximo escrito. Pois o tédio, que também possui natureza de vento, só acomete os menos avisados e os inadvertidos. Os escritores, têm uma defesa natural contra as mortes comuns aos mortais, as naturais, as por doença ou devidas ao suicídio. É a solidão. A solidão é um antídoto específico, presente naqueles que escrevem com sentido, ela também afasta os ventos contrários nos campos dos escritores, sejam moderados ou não. Porque a solidão é a melhor companhia para se passear por estes campos. Todavia, aparecem aqueles cientistas e os que neles acreditam, para considerarem os escritores pessoas com alto potencial suicida. Qual o quê, isso advém dos medos que rondam essa gente, incapaz de escrever, portanto de mergulhar em si mesmo, de refletir, de se expor, de contar sobre aquilo que acontece e o que não acontece nas extensões dos seus campos. Mas é porque eles não têm onde passear, eles têm obstáculos e limites, que podem sucumbir a qualquer vento ou mudança. Seu chão não é de feito de campos, são sim caminhos asfaltados e traçados com início, meio e fim, os quais são percorridos obrigatoriamente seguindo placas indicativas por essa gente, que não escreve. Seu céu bate nos telhados, nos arranha-céus, nos neons a nas nuvens, essa gente que não escreve. Não escrever? Imagine que tédio é a vida de quem não escreve, por não ter nada para contar, porque nada aprendeu ou nada deseja. Basta para eles, ficar desviando dos obstáculos e divagando aquém dos seus limites, que já está bom. Coitados, não sabem sobre a liberdade, que nos permite atribuir um valor imensurável à loucura, um custo intangível à imaginação, e um sentido epistemológico à vida. Eu não queria, mas o mundo contemporâneo é maniqueísta. Ainda aqui, inserido neste chaos dual, tenho que me aliar ao inimigo e comentar que eu dividiria a humanidade em dois tipos de pessoas: os escritores, e os vazios. Os vazios necessitam preenchimentos, como companheiros, amores e demais gentes quaisquer – sem falar nas coisas – a ocuparem suas lacunas existenciais, seus vácuos afetivos; suas vontades e ansiedades, manias e hobbies; suas camas e documentos, tempos e espaços. Vazios, ventos, suicídio, tédio, nada disso é compatível com o mundo vivente dos escritores. Porém, há quem diga que um escritor também morre quando se encerra uma determinada inspiração. Outro engano. Enquanto os não escritores precisam amar condicionalmente, os escritores, de modo incondicional se ocupam da inspiração. Os escritores não se matam. Pois para eles a morte é diária fonte de inspiração, que brota e seca, ao fim de cada texto. O suicídio seria acabar com a inspiração, com os textos, com os passeios infinitos pela liberdade, pela loucura e pelos corajosos campos da vida. Não acredite neles, caro leitor. Os cientistas das academias da mente, são teóricos que jamais escreveram uma linha. Eles só fazem montar os obstáculos deles nos campos dos outros, estabelecendo limites alheios à sua (leitor) propriedade de escrever. Por isso, os homens das farmácias, dos consultórios e dos hospitais andam de branco. É porque a mentira, ela é transparente... é da cor do vento... e de todas as mortes que podem alcançar os não escritores. Escutou? Foi o suicídio que por aqui passou quietinho, não parou e foi pairar covardemente sobre aquela gente que nada escreve... 



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