Não
chore à noite. Sei que é mais aconchegante, principalmente nos fins de semana.
Mas é preciso romper algumas tradições, para dar um sentido melhor ao ato.
Chorar, é deixar vazar por alguns instantes aquela coisa toda acumulada na
semana, que deixou você magoada. Na hora, o disfarce; guardar e trazer para
casa, então cuidar direito da sua indignação. E ainda mude: o faça à luz do
dia, claro que em reservado. Se você chegar mais cedo em casa, aproveite. As
lágrimas, enquanto é dia, estão mais soltas, fluem mais por não estarem
acobertadas pelo aconchego da noite. Há os que dizem serem as lágrimas, as
estrelas do dia. E ninguém vê, diante de tanta luz. Também porque secam mais rápido,
à medida que despontam na face. Chorar, é conversar contigo em silêncio,
afastando o pensamento, deixando só a emoção. Sim, agora não é hora de
superego, de controle nenhum. Isole-se, afrouxe a roupa, tire os sapatos, deite-se,
fique leve para ser conduzida pelas águas do seu rio interior, ele precisa
chegar ao mar, na praia do rosto. Porque a indignação não cabe toda nas
palavras, ditas ou escritas. Nem nas atitudes, nas reflexões. Estas vazões
tradicionais não liberam toda a má energia contida, é preciso abrir as
comportas. Nesta época de seca, faz bem chorar. Mesmo que ninguém veja isso, até é melhor que não. Vão querer saber motivos e eles são só seus. Vão tentar
consolar, e não se para um rio. Vão dizer não chore, e não se para um rio. Aquele
assunto, aquele problema, aquele desamor, seja o que for, trate-o de limpá-lo
com as suas águas. As lágrimas são termais, terapêuticas. Catarse líquida, sem
atrito. Mas tenha em mente o seguinte: choro não é solução. É como se fosse um
levantamento de dados num problema aritmético ou físico. Só o fato de você
separar esses dados num canto, já abre um caminho para uma posterior solução. É
assim que se resolvem as questões. Durante a vazão, liberte-se. Revolte-se no
início, pondere no meio, relaxe ao final. Pronto, alguns minutos e você estará
pronta para sorrir mais seletivamente, com equilíbrio. Uma vez por semana, está
bom. Tipo um fechamento para balanço num estabelecimento qualquer. Só que não é
qualquer: é você. Canalize o seu rio, e aos poucos verá que não se chora apenas de
tristeza. Você aprenderá a chorar também pelas coisas belas da vida.
emocionar-se com verdades, cores, sabores, amores e tantos outros ores. Você aprenderá
até a chorar direito, como se deve, criando uma resistência frente às diversas
situações hesitantes que se apresentem para você. Com o tempo, chorará menos,
rirá menos também, só que com mais ênfase, mais certeza, mais cor. Daqui há alguns
meses, nos encontraremos. Quero ver o seu sorriso novo. Límpido, cristalino,
fluvial feito água de ribeirão. Vou lhe dar um abraço. E trocar duas ou três
lágrimas contigo. No final do encontro, fazer-lhe um convite. “Venha me
visitar. Moro perto do mar. Os rios vêm para cá. Aqui tem muita água para a gente contemplar...”.
Diametralmente oposta a qualquer ordenamento jurídico, DESUNIÃO ESTÁVEL é uma imaginária relação multiafetiva ousada entre a Poesia e a Música. Como esses valores estão em declínio nos dias pós-modernos, decidi promover impulsos de acasalamento sentimental entre ambas, com a substancialidade e a emoção que brota dessas duas formas de expressividade dos sujeitos na sociedade civil, ou seja, nascentes da natureza humana. Aos amantes, as cortesias da Casa.
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