segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Loucura Básica, Saneamento Idem












Não chore à noite. Sei que é mais aconchegante, principalmente nos fins de semana. Mas é preciso romper algumas tradições, para dar um sentido melhor ao ato. Chorar, é deixar vazar por alguns instantes aquela coisa toda acumulada na semana, que deixou você magoada. Na hora, o disfarce; guardar e trazer para casa, então cuidar direito da sua indignação. E ainda mude: o faça à luz do dia, claro que em reservado. Se você chegar mais cedo em casa, aproveite. As lágrimas, enquanto é dia, estão mais soltas, fluem mais por não estarem acobertadas pelo aconchego da noite. Há os que dizem serem as lágrimas, as estrelas do dia. E ninguém vê, diante de tanta luz. Também porque secam mais rápido, à medida que despontam na face. Chorar, é conversar contigo em silêncio, afastando o pensamento, deixando só a emoção. Sim, agora não é hora de superego, de controle nenhum. Isole-se, afrouxe a roupa, tire os sapatos, deite-se, fique leve para ser conduzida pelas águas do seu rio interior, ele precisa chegar ao mar, na praia do rosto. Porque a indignação não cabe toda nas palavras, ditas ou escritas. Nem nas atitudes, nas reflexões. Estas vazões tradicionais não liberam toda a má energia contida, é preciso abrir as comportas. Nesta época de seca, faz bem chorar. Mesmo que ninguém veja isso, até é melhor que não. Vão querer saber motivos e eles são só seus. Vão tentar consolar, e não se para um rio. Vão dizer não chore, e não se para um rio. Aquele assunto, aquele problema, aquele desamor, seja o que for, trate-o de limpá-lo com as suas águas. As lágrimas são termais, terapêuticas. Catarse líquida, sem atrito. Mas tenha em mente o seguinte: choro não é solução. É como se fosse um levantamento de dados num problema aritmético ou físico. Só o fato de você separar esses dados num canto, já abre um caminho para uma posterior solução. É assim que se resolvem as questões. Durante a vazão, liberte-se. Revolte-se no início, pondere no meio, relaxe ao final. Pronto, alguns minutos e você estará pronta para sorrir mais seletivamente, com equilíbrio. Uma vez por semana, está bom. Tipo um fechamento para balanço num estabelecimento qualquer. Só que não é qualquer: é você. Canalize o seu rio, e aos poucos verá que não se chora apenas de tristeza. Você aprenderá a chorar também pelas coisas belas da vida. emocionar-se com verdades, cores, sabores, amores e tantos outros ores. Você aprenderá até a chorar direito, como se deve, criando uma resistência frente às diversas situações hesitantes que se apresentem para você. Com o tempo, chorará menos, rirá menos também, só que com mais ênfase, mais certeza, mais cor. Daqui há alguns meses, nos encontraremos. Quero ver o seu sorriso novo. Límpido, cristalino, fluvial feito água de ribeirão. Vou lhe dar um abraço. E trocar duas ou três lágrimas contigo. No final do encontro, fazer-lhe um convite. “Venha me visitar. Moro perto do mar. Os rios vêm para cá. Aqui tem muita água para a gente contemplar...”. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário