quinta-feira, 21 de setembro de 2017

THUM !



Na Angels Flight, ela não desfilava na passarela, preferia ficar em pontos menos estratégicos. Baixinha, biotipo de ninfeta, uma boca tão bonita que ficou na história de quem ela conheceu. Seios fartos, para quem gosta. E o silêncio, compatível com a idade de quem ainda tinha pouco tempo de vida noturna, aos dezessete. Entreolharam-se, ele se aproximou para o início daquele era uma vez, que prolongou-se no tempo, mesmo com pouco espaço. Dali, com mais um casal, foram encerrar a madrugada no salão de festas vazio de um prédio qualquer. Ela deixou telefone e um endereço no centro, morava em bairro distante. Na primeira saída, na segunda semana e na terceira hora, o motel passou a ser a casa de praia deles. E era bom. Muito bom. Era físico, era hormonal, era tribal, era aquilo mesmo. Entregavam-se até mais que marido e mulher. A coisa tinha ares de ritual: tiravam os sapatos, deitavam lânguidos na cama, sorrisos, trocavam algumas novidades, uns beijos na boca impossível e ela ia para o banheiro. Ficava uns vinte minutos lá dentro, voltava nua enrolada na toalha, ele a esperava em riste, entre lençóis. Agarravam-se nas preliminares, sem perder muito tempo. Do oral, demorado e único, partiam para o coito anal, ele adorava regozijá-la assim. De costas para ele, ela se masturbava por baixo do ventre, até o gozo profundo e libertador. Após um relax, era a vez de ele ejacular em sua boca: ela voltava correndo para o banheiro, mistério que ele traz até hoje, sem saber se ela engolia tudo ou passava no rosto, cuspir jamais. Repetiam a dose. Até que ela, em determinada época, revelou-se noiva. Foram alguns anos assim, apesar de que, em função disso, diminuíram a frequência de um encontro a cada dois meses, para a cada quatro meses. E depois para duas vezes por ano. Até que um dia, praticando o que ela mais gostava, de pé dentro da hidro, ela desmaiou. Passado o susto, eles meio que se desentenderam e ficaram uns três anos sem se verem. Mas ele tinha aquele endereço no centro, foi até lá, era casa de uma amiga dela. Esta, fez-se de elo e os dois proibidos voltaram a se encontrar. Quando ela casou, afastaram-se de vez. Passou mais um bom tempo e encontraram-se num circo, cada qual com sua família, filhos pequeninos. Ela saiu para levar o filhote ao banheiro, cruzou por ele num instante mágico, de emoção e mudez. Nunca mais se viram, até a separação temporária dela, quando o procurou. Foi até a casa dele, conversaram e fizeram sexo. Perguntaram-se, porque que motivo nunca haviam namorado. Não acharam respostas, além do compromisso dela. Um, o melhor parceiro sexual do outro. Hoje, ambos têm muito mais diálogo, pela experiência, pelas vidas que passaram. Não são felizes, nem ela casada nem ele só. Mas o fato de outrora terem abdicado de uma vida a dois, tem peso significante. Um peso que não faz cessar a dúvida: pode o amor nascer do sexo? Na sequência, os filhotes dessa dúvida: existem casais que se mantém apenas por sexo? Existem casais que se mantém apenas por amor? Existem casais que se mantém com amor e sexo? Existe tudo. A fauna relacional é extensa, inimaginável seu fim. Assim como o caso do sujeito e a noiva, sabe-se que um dia começou. Dele, ela guardou imagens do passado. Dela, ficou na lembrança a boca mais gostosa que beijara. Não tentaram ser felizes. Ocuparam-se, somente do prazer. Um descompromisso mais que verbal. Não há culpa. Nem telefonemas, sequer mensagens. O que restou, foi a certeza de que o  tempo, faz de cada encontro uma chance. Nós, todos nós, é que não sabemos o que fazer com nossas chances...  

- Oi. Vamos hoje?
- Thum! 

                                    *Thum: uma resposta feito bordão que ela usava para perguntas desencontradas...



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