Dilemas
espaciais. Comparações impossíveis. Só a música salva. Quem é ou quem foi o grande
amor de sua vida? É esse hoje ao seu lado? Ou outro, bem distante? Se for o outro bem distante
e houver esse aí ao seu lado hoje, tem algo errado, você tem alguma culpa disso?
Óbvio que não. Mas por que a pergunta se não se pode comparar? É que não
precisa comparar para perguntar, a resposta não vem com o vento, ela é
imediata. Você sabe bem quem é ou quem foi o grande amor de sua vida. Mesmo que
não o tenha vivido, ou que tenha tudo ruído pelo destino que vocês escolheram.
Sim, nós escolhemos o destino. Mas não devemos comparar. Todo mundo, tem o seu
maior amor na vida. Muitos, convivem com outra pessoa que não é este amor
maior, mas nem por isso seja menor: não se compara, repito. Porque, exceção
feita no campo do trabalho, não se comparam as pessoas entre si, apenas uma
pessoa com ela mesma, num intervalo de tempo qualquer. Para ver se ela mudou,
melhorou ou retrocedeu em algum quesito. Se você está ao lado dele, esqueça
esse texto, vá para o parque passear, beba muita água, hoje é tarde de sol. Se
você tem outro que não aquele, o maior, também vá passear no parque, tomem
caldo de cana, cerveja ou sorvete. Do contrário, se você é uma pessoa sozinha,
fique mais um pouco aqui, tem frutas na geladeira. O amor maior, então distante.
O que se poderia dizer sobre ele. Por exemplo, que ele venceu tempo e
espaço, pois continua em você a sensação do amor, seja do carinho, do afeto, não
é preciso a esperança. Basta aquela boa vibração sentida quando se pensa no
amor maior. Lembrando do primeiro encontro, os primeiros olhares, o deslumbramento, aiai. Até, imaginamos algo acontecendo de vez em quando. Risos, brindes, abraços,
beijos, conversas, até passeios nos parques para comer pastel. É só acordar de
manhã pensando, viajar pela estrada, rever as suas fotos, se embalar na música,
passear pela natureza, e de repente chega esse amor maior de branco, pés
descalços, sorriso aberto e perguntando: “Onde estávamos? Vamos regozijar um
café? Vamos dançar num salão? Vamos para a praia? Juntos!” Tudo isso, e o que mais couber em seu querer. Lembrando que o "maior", corretamente deveria se chamar simplesmente"Amor", sem adjetivos de tamanho ou qualidade, e pronto! O amor maior, é uma espécie de deus laico ou ateu, que
mora em nossa consciência. Visita nosso coração, passeia pelo nosso corpo em desfiles
com pompas, bebidas apropriadas, tudo sempre em comemoração. Por isso, festejo
minha solidão, distante do meu amor maior. Tentei explicar, não consegui. Para isso,
existe a música. A música, nos salva...
- mas espere um pouco: essa música não é brega?
- brega é não assumir a dimensão de um amor maior.
Uma Vez Mais - Ivo Pessoa
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