ELEGIA 2015
Na mente, o exílio de todos os santos. Sob o tórax, migrantes artificiais revezavam-se de acordo com seu cataclismo de origem relacional. Restante do organismo, periferia abandonada. O conceito durkheimniano resistindo às intempéries correntes nas veias abertas em baixo do tecido social. Tu, ser quase procarionte, desprotegido do poder público legalmente constituído que nada constrói, pouco ajuda e muito requer. O conviver civil é uma arte, onde os elementos adjuvantes mal sabem pintar, musicar, poetizar nem manifestar latências recomendadamente confinadas pelos meios de comunicação. A luta entre os humanos e sua própria raça, conflitando esperanças versus violência, capacidades contra estigmas, liberdades ou drogadição. Mais uma vez, as águas de março invadem o calendário, anunciando incansavelmente tragédias no próximo janeiro, evitáveis se houvesse vontade política de emancipar. Tudo deslizará, expondo a terra desnuda sem proteção, abrigo ou sustentáculos. Leves, somos seres vibrando timidez cósmica, conservadorismo histórico como legado para um povo que teve invertido seu processo de formação da cidadania. Leis, são benefícios e guarita para habitantes da mesma casta, engessando todo e qualquer status quo da base ao vórtice da pirâmide, trânsito impedido. Na televisão, a cadeira elétrica do senso crítico, homens-deuses, mulheres-fruta e crianças-prodígio fazem a cartilha utópica do dever-ser, cuspida da boca de apresentadores factoides que não têm capacidade para conversar consigo mesmos em frente ao espelho: enojar-se-iam. Nem se fala da irresponsabilidade gestora do Estado, da vergonha do concílio legislativo, as mortes ocupam todos os campos de educar informalmente. Tudo isso acontecendo e eu aqui, perto dos pombos e sem milho para ofertar. Na verdade, apenas corro para o teclado na tentativa de contextualizar minha grande circulação. Eu, longe do colo dela, abraço um travesseiro frio perdendo cafunés pelos dedos vazios, de unhas bem cortadas e com duas falanges distais ligeiramente umedecidas com sabor de cerveja artesanal. Quero regozijar, o espaço não permite. Quero logo enterrar o tempo, antes que ele contamine a beleza da vontade por um real e companheiro amanhã...
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