SOCIOSOFANDO
Por quem vivemos? Não se pode crer que seja apenas por nós
mesmos, deve haver mais alguém na lista, em nossa lista. A razão do viver, é
coisa demasiadamente particularíssima, irrelevante para qualquer texto, seria desfilar egocentrismo. Devemos
voltar nossa atenção para a primeira questão, até por uma causa ou tino social.
Pergunto-me de novo, e não há brisa de resposta. Tentarei entrar no raciocínio
pela janela temporal, lá nos fundos. Sim, nós vivemos pelos filhos. Mas isso é
muito óbvio, cores primárias, matemática básica, alfabeto, hino nacional. Que
esforço para se tentar ir além nessa descoberta. Pela família? Parentes do
núcleo residencial e/ou distantes quem sabe. A obviedade continua sentada na
sala, mas agora a dúvida bate na porta da garagem. Não, não falo pelas pessoas da
família. Penso naqueles de outro sangue, que circundam nossa existência em
aproximações e distanciamentos, como o universo em expansão. Então eu não fujo
e jogo sobre a mesa a incógnita: vivemos por um amor? Mas qual amor? Alguém do
passado? Mas este já passou e ainda continuamos vivos. Alguém do presente,
decerto. Mesmo que reinem as conveniências, os interesses ou as carências de
quem hoje está, em tese, acompanhado. Mas e se não há ninguém conosco e
nem por isso nos sentimos mortos? Sobrou uma só alternativa: nós vivemos por
alguém do amanhã. Uns esperam, outros correm atrás de alguém sempre indeterminado antecipando tempos. Quando acham, não acham uma pessoa determinada, é apenas um alguém qualquer. Quem procurava, não quis
você, quis apenas outro alguém. Ou seja, não há encontro, prevalece o acaso
forçado, em detrimento das coisas do destino. Muitos dos que já se consideram 'encontrados', ainda imaginam em silêncio sepulcral que poderiam ser mais felizes em outras
relações. Amanhã...mas...vivemos hoje por alguém que ainda não conhecemos? Ou
conhecemos e não convivemos? E o que dizer dos que não esperam e nem vão atrás, como
eu? Há destino para gente assim? Não seria muita passividade, omissão ou algo
desse gênero, manso feito crente? Já não há mais brisa, agora o vento sopra
forte em direção norte. Eu não vivo por alguém do passado, nem deste presente sem
ninguém. Eu vivo por alguém do futuro. Alguém que eu não sei, nada sei, por
completo desconheço. Nem mesmo sei se virá. Mas eu vivo por ela. Ignoro até se ela
é uma pessoa. Entra nesse instante uma rajada de vento pela minha janela
lateral, e eu respiro um pensamento estranho: agora, já penso que eu vivo é
pela vida. Essa vida em que nos preparamos para o amanhã, traduz que já
estamos no futuro. Ontem, não havia ninguém ao meu lado. Hoje, a vida está aqui
em minha frente. Por isso eu não espero nem corro atrás. Aquela pergunta inicial, cabe somente àqueles que, afortunados e em extinção, amam
reciprocamente. O resto, é Filosofia. Ainda bem. Ainda bem que eu sou reflexivo, pois tenho uma ponte que me mantém permanentemente conectado ao futuro: ela se chama Perspectiva.
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