Um chá de mate
convencional aguardava seu resfriamento na xícara do papai. Bolachas água-e-sal
restavam no pacotinho quase acabado sobre a mesa dura da Colombo. Era o que
tinha naquela tarde vazia de emoção. Ingerir coisas sem sabor, em condolências
às próprias papilas gustativas, há tempos inutilizadas. Que lástima, ter de
jogar coisas pra dentro só para movimentar um corpo João-bobo de distâncias. Há
tantas pessoas no mundo que se remexem sem sair do lugar. Tomou aquilo e foi
meditar sobre a cama espaçosa como nunca, ao chegar da noite novamente nublada.
Poetas blasfemando por aí que há algodões no céu: não naquela cidade, coberta por
um emplastro acinzentado, contínuo e infinito. Feito um muro alto, separando
quase definitivamente os habitantes de seu vizinho solar. Ares de ira ao
lembrar a música que mentia sobre a vida acontecer como nos dias de domingo.
Este, na verdade uma noite ao avesso. Pois é o dia dos fins. É quando a boa
semana se encerra, quando os bons parentes e os melhores amigos morrem, hora de
voltar da praia, das férias e da vida como deveria ser. É quando as antenas de
TV tremem ao vento devoto, trazendo a fé que dá não se sabe em quê, anunciada
por outra canção correta que sopra para longe aqueles ares de indignação. Deveriam
ter feito dois sábados, ou ter esticado a semana até a sétima-feira, mas não,
erraram feio os homens do calendário. A alcunha de dia do descanso, trouxe ao
mundo um fardo de energias suspeitas, tão pesado quanto fica o peito ao cair da
tarde dominical. Venha logo, segunda-feira, reinicie nosso tempo de realizações
antes que o mau pensamento tome conta dessa gente que só faz retrair nos dias
de auditório. Ele precisa sair, expandir-se indo ao mercado ou à feira,
recolhendo frutos de criatividade para que seus dias sejam todos iguais de
possibilidades. Imaginar viver assim, já seria um bom começo para o sol
aparecer em qualquer lugar. Quem sabe, até dois goles de café...
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