O UNIVERSO TANGENTE
Eu tenho um mundo dentro de mim. Minto, o mundo
está lá fora ao meu redor, eu criei aqui foi um verdadeiro universo. Aqui onde
existe o meu espaço sideral, os meus quasares, minhas constelações e também buracos
negros. Não há espaçonaves cortando esse lugar. Não há gente passando por aqui.
Mas a luminosidade é tamanha. Luz que vem do infinito de estrelas, que são as
palavras que eu lanço ao céu. Sim, eu não vivo, apenas escrevo. Mas também não
posso dizer que sobrevivo, eu apenas escrevo. Há outras formas de viver, sem
prejudicar aquela coisa chamada vida. Sei que não sou convencional, mas há
outros assim como eu, meu consolo. Não me importa quantos, onde, como, muito
menos por quê eles existem. Meu universo é muito grande para que eu me preocupe
com eles. Aqui, onde eu sou tudo. Guardião e protegido, autor e leitor. Luz e
sombra, letra e raio. Noite e dia, vida e morte. Sim, eu faleço quase que
semanalmente, à medida que renasço sem concepção. Penso que sou meu próprio
Deus. Criador e criatura. Então eu olho lá de cima de minha consciência
celestial, o vazio relacional que orbita em torno de mim como pessoa. Digo para
mim mesmo, em tons de anunciação, que isto não é loucura, pois esta necessitaria de alguém por perto para entendê-la como diagnóstico. É somente um jeito de
compreender os distantes outros mundos, pois o meu é límpido, claro, perfeitamente
compreensível. O que não se entende, é o vazio dos outros. Dos outros mundos. Mas acho que eles são vazios só porque não estão por perto, e eu nunca consigo chegar lá, as dimensões não permitem. É...tenho
que cuidar desta minha galáxia solitária, meu pedaço de cosmo que me cabe
por função. Delegada não sei por quem ou pelo quê, mas estou aqui. Aqui onde o breu é mais
negro, e as manhãs são mais brancas. Muitas cores passeiam por aqui. Só não
conheço, a cor do amor...
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