domingo, 15 de fevereiro de 2015

Contos acima da copa das Araucárias


 O UNIVERSO TANGENTE 



Eu tenho um mundo dentro de mim. Minto, o mundo está lá fora ao meu redor, eu criei aqui foi um verdadeiro universo. Aqui onde existe o meu espaço sideral, os meus quasares, minhas constelações e também buracos negros. Não há espaçonaves cortando esse lugar. Não há gente passando por aqui. Mas a luminosidade é tamanha. Luz que vem do infinito de estrelas, que são as palavras que eu lanço ao céu. Sim, eu não vivo, apenas escrevo. Mas também não posso dizer que sobrevivo, eu apenas escrevo. Há outras formas de viver, sem prejudicar aquela coisa chamada vida. Sei que não sou convencional, mas há outros assim como eu, meu consolo. Não me importa quantos, onde, como, muito menos por quê eles existem. Meu universo é muito grande para que eu me preocupe com eles. Aqui, onde eu sou tudo. Guardião e protegido, autor e leitor. Luz e sombra, letra e raio. Noite e dia, vida e morte. Sim, eu faleço quase que semanalmente, à medida que renasço sem concepção. Penso que sou meu próprio Deus. Criador e criatura. Então eu olho lá de cima de minha consciência celestial, o vazio relacional que orbita em torno de mim como pessoa. Digo para mim mesmo, em tons de anunciação, que isto não é loucura, pois esta necessitaria de alguém por perto para entendê-la como diagnóstico. É somente um jeito de compreender os distantes outros mundos, pois o meu é límpido, claro, perfeitamente compreensível. O que não se entende, é o vazio dos outros. Dos outros mundos. Mas acho que eles são vazios só porque não estão por perto, e eu nunca consigo chegar lá, as dimensões não permitem. É...tenho que cuidar desta minha galáxia solitária, meu pedaço de cosmo que me cabe por função. Delegada não sei por quem ou pelo quê, mas estou aqui. Aqui onde o breu é mais negro, e as manhãs são mais brancas. Muitas cores passeiam por aqui. Só não conheço, a cor do amor... 



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