quinta-feira, 12 de maio de 2016

Nota de Falecimento - 11 de maio de 2016




Um coração metropolitano. Pulsa, com ligeira disritmia, só porque a vida é uma grande chance. Despertar às cinco horas e trinta minutos da manhã, sem aviso, para começar um novo dia velho. Mas quando saio lá fora, percebo que a neblina toma conta da cidade, através de dois órgãos dos sentidos. O estômago vazio ferve a pouca bile que contém. Um cheiro inexplicável de enxofre, misturado com amônia, invade os organismos de convivência matutina. Uns, ignoram pelo hábito. Eu, revolto-me comigo mesmo. Um município desse porte, sucumbe à névoa cortina que deita sobre a terra de cimento, fazendo circular gases inodoros como se estivéssemos inalando uma coluna inteira da tabela periódica dos elementos, sem nobreza alguma. A química do homem, deteriorando seu físico. Não adianta abrir as janelas, o odor já se instalou na mente. Os pulmões resistem mais do que o coração, trabalhando arduamente para assimilar toda essa chuva ácida em forma nebulosa. Precipita sim, até sobre nossas consciências. Uma poluição que afeta o futuro. Enquanto meu amor virou inodoro, a podridão dos homens públicos aquece a degradação da democracia, sublimando as esperanças, numa atípica reação química onde o soluto somos nós, o povo. O povo, do lado de fora da própria sociedade... 


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