depois, do desamor,
vem uma paz semelhante à morte.
vem uma paz semelhante à morte.
um apogeu humano.
é quando
a gente vira mestre de si mesmo.
agora catedráticos,
é hora de lançarmos as
notas de quem não conseguimos ser...
DEpoiS do AMOR
Deslizo o indicador sobre a tela do despertador
moderninho. Acordei mais de uma hora antes do sinal. A garganta que arranhava a
madrugada pedia ainda no sono um gole d’água. No escuro, caminho silencioso em respeito
aos fantasmas da semana que eu não convido a posarem aqui, nesta deserta
hospedaria de bairro. A geladeira corta em feixes de luz a noite ausente de
sonhos, pois os desejos lânguidos permaneceram sob as cobertas azuis de inverno
brusco. A acuidade visual tomou um choque térmico ao nível da fonte de minhas lágrimas,
igualmente seca, vazia, inócua; pensei em aliená-la feito um bem imóvel. Pés no
chão, mãos ao redor do copo já vazio, coloco onde imaginei estar a mesa. Na
volta à cama, deslizo os dedos sobre as cordas do violão de nylon, pois o de
aço não é feito para recepcionar os amanheceres. Músicas antigas tomam conta do ambiente
soturno, pudera, ainda não vieram as do futuro. Ainda preenchemos o presente
com coisas do passado, obviedades que ignoramos em toda ausência de som e de tudo mais que nos falta. A voz rouca seduz a mim mesmo, em volume baixo para não
despertar os pássaros da árvore sempre verde do quintal. Pronto, já é hora de levar para a
escola um dos meus rebentos, por duas vezes engravidei uma só mulher. No caminho
chuvoso e escorregadio, a curva na entrada da Visconde e o carro ao lado
direito passa reto cortando a nossa frente subindo no canteiro, quase rodamos na
pista e por habilidade não batemos nos outros. Mal súbito? Defeito mecânico?
Celular...a dependência psíquica do objeto é metástase de uma pseudomodernidade
inversora de valores e sem tratamento, um dia mata o doente-autor, vítima de si mesmo.
A cidade começa a ser bloqueada na marcha anual em busca do Messias, o qual, se
chegasse, acabaria com toda essa folia: nunca virá, o que existe são apenas
justificativas de dominação. Volto para casa, a chuva, a árvore e os cães. Os
pães de queijo sobre a mesa sozinha, pois os fantasmas foram embora porque eu
não uso presunto. A noite se continua pela manhã embaixo do cobertor agora mais
azul-marinho, dou as mãos para o meu único aconchego, sentindo-me submerso no oceano. Rotina de sábado? Coisa nenhuma. A cidade já teve seus dias de sol, nesta
semana voltou à sua normalidade. Eu, tinha alguém no coração. Também
voltei...
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