domingo, 29 de maio de 2016

Distopia de Um Só Homem




Ela está se aproximando. A grande explosão. Um estrondo, junto com sua enorme destruição. Há tempos orbita no céu, aguardando a hora certa para despencar sobre aqui. Ou esconde-se no centro da Terra, esperando emergir. Virá, que eu sei, em forma de acidente, e como todo acidente, será um fruto negligente. O fogo, a inundação, o vendaval ou o desmoronamento chegarão depois, após o impacto. Não significará um cataclismo, pois recairá apenas sobre mim. Quando a tragédia é individual, não entra para a história dos homens, isto requer quantidade. Explicar minha parte culposa nesse evento, não é missão, mas é impossível. O quê eu teria feito, quando, aonde, como, por que, para quem...não há resposta, fui praticante do bem. Nada fiz de mal para os outros, até ajudei muita gente. Vai ver que o bem que fiz para mim mesmo, justificaria o fim das coisas à maneira de uma única e solene explosão. Mais um paradoxo para minha lista de Schindler, onde constam ainda coincidências, desencontros, indiferenças, silêncios e metades. Uma lista que não é de papel, pois nele guardo outras coisas; como o desamor e os meus pontos-e-vírgulas, por exemplo. Mas se a explosão é das coisas, obviamente o papel também será atingido. Pressentimento, anunciação, o final já começou. Serão pouquíssimos segundos para escutá-la, antes daquela turba de elementos da natureza tomar conta do meu redor. E tem gente que diz que “a idade vai chegando”. Na verdade, ela está é indo. A idade vai-se indo como caminha a labareda num pavio: no fim, a bomba. Nada apaguei, fiquei aqui bem longe. Aqui no conforto de minha consciência, aquecido com as mantas de minha poesia, embalando-me ao som da música universal. Aqui, refrescado pela brisa daquilo que me inspira, na alegre companhia de minha solidão, sentindo o doce perfume de todas as minhas verdades. Aqui, no meu canto, o único lugar onde eu consigo compreender ou dimensionar o que aqueles homens um dia chamaram de virtú... 



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