O Trem da Meia-noite
Ele acha que já viveu demais.
Perdeu tempo em casamento. Em cidades, empregos, residências, outros relacionamentos de
menor porte, como sexo por exemplo. Não há arrependimento algum, apenas
reconhece o desperdiçar das horas. Por outro lado, pensa que há muito pela
frente. O trabalho, a praia, a solidão, o conviver com os filhos. Um paradoxo
que não sai, não alivia, enquanto não se chegar lá na frente. Mas ele volta e
vê que já passou um bocado. Não saber distinguir entre chances e bagatelas, a questão.
Precisava ter olhado para o futuro, mas foi em certas ocasiões, desses que só
vive o presente. Claro que o aprendizado vem de qualquer jeito, mas muita coisa
ele poderia ter evitado. Mas não, ousou o desafio, o assim está bom, o tudo se
transforma, e algumas vezes o tanto faz. Não damos importância às expressões
que quase usamos em determinadas situações. São sentimentos que não traduzimos
em palavras, justamente para evitar os fins se antecipando inclusive antes dos
meios. É quando louvamos a emoção passageira, em prejuízo da razão eterna. Num trem
para as estrelas, os vagões não podem ser de madeira. Pois a madeira pode até ser bonita, mas ela trabalha bastante a
cada estação, alterando a noção temporal do caminho...
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