O
cair da tarde de domingo. Uma aeronave contra sua ascensão. A porção final das
cataratas, o último hectare da queimada, o chão se aproximando do precipício.
Tudo vai se fechando ao redor, apertando o peito, contraem-se os músculos e a luz
dos os vasos sanguíneos também diminui. Não adiantou o sol daquela manhã, o fim do dia
é sempre inevitável. Então, os amanheceres são máscaras que inventamos no baile
do dia que se encerra antes da noite verdadeira. A que ponto se chega, quando o
sol torna-se uma ilusão. O dia mais hipócrita da semana, oscila tanto quanto a
maré, mesmo sem correntes para empurrar. Ou será que eu não vejo essas
correntes? Elas existem? Para todos? Parece que sim, e nós nos diferenciamos é
pelos nossos olhares. Visões de mundo que vão além dos limites do globo ocular,
da caixa craniana, dos compartimentos atriais e ventriculares daquele órgão batuqueiro e bobo no lado esquerdo do tórax. Eu não sei para onde vão, estas visões, ou ao
menos até onde deveriam ir. As minhas já não estão mais por aqui, perderam-se
ou se encontraram no universo. Num ponto qualquer não equidistante entre mim e o
deus oblíquo que eu nunca vi. Uma resposta que sobe, sobe, sobe lá na exosfera para
repousar numa estrela. Não basta que eu saiba a direção na qual partiu da minha
realidade, eu vi o que era e tenho ciência de que foi embora. Minha condição humana
faz-me inerte sucumbindo à gravidade planetária, restando-me a beira-mar como
consolo. Ao mergulhar, posso fingir estar no céu. Perto da tal estrela. Quase vejo
deus, parece frontal. Não é a água que impede, turva é a minha consciência. Assim como o oceano,
sei onde fica o sentido. Vou para lá. Antes que eu me afogue em terra, dentro
de outro domingo arrebatador de corpos vulneráveis à própria existência humana,
pela ausência de movimento, pelo silêncio dos sentimentos, pela obscuridade das intenções, pela carência de interpretação e pela inutilidade das
palavras, sem coração onde pudessem ecoar...
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