Um Colo
O frio da
manhã, a mãe e a filha a pé na calçada na quadra do hospital. A pequena no colo
da moça nova. Acelerei um pouco, queria ver seus rostos antes do sinaleiro.
Elas sorriam no entreolhar dos mais lindos que eu já não via. Ela contava
alguma coisa para a menina, que parecia não ser princípio de inverno. Eu vi
calor. Era o amor. Eu vi o amor. Chorei feito um tímido, disfarcei feito ator.
Aquilo me invadiu de tal forma, que perdi minhas respostas sobre a vida,
percebendo que minhas perguntas são mais vãs do que qualquer sociologia. Se era
a raridade do momento ou não passava do meu tempo comum, minha reação. Um pouco
dos dois, a justificativa emprestada de mim mesmo, costume que temos diante das incertezas. Mas não me apeguei muito nas razões, diante de
tal emoção ali naquela cidade, ali na rua. Onde estaria o pai, é uma coisa que
me vem à cabeça desde pequeno, quando perdi o meu, sempre fico imaginando onde
estão os pais das pessoas. Não pude fotografar, o que ficou revelado e guardado
em minha mente. Uma relação fraterna, frutífera, aquelas duas iriam viver
inúmeros momentos iguais ou melhores na vida. Parecia não haver diferença de
idade, uma comunhão entre dois seres afins. Pena que esse tipo de coisa ocorra
mais entre parentes, os não consanguíneos deixam a desejar. Joyce trazia Joana de uma consulta, o clima tentava presenteá-la como uma pneumonia. Medicada,
estavam indo ao ponto de ônibus para retornar à sua casa. Lá, o pai estava lavando
o carro. A mãe era independente nas suas atitudes, mas ainda presa ao modelo
conjugal. Joaninha cresceria sem jamais saber quem o pai era para a mãe. Esta,
fez questão de não contar tais detalhes, os quais negava serem fundamento. Coisa rara, pessoas mantendo ética
sobre as relações, sem interferir na opinião alheia. Uma ciência jurídica em
desuso ultimamente, chama o contrário disso de alienação parental. Então, uma
vez existente, vão aos tribunais requerer reparações. Não era preciso que a
pequena hoje grande soubesse do pai pelos autos. A intuição, demora mas não
tarda a responder aquilo que, por vergonha, nunca foi questionado...
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