segunda-feira, 30 de maio de 2016

Mais Um..


Dizem que é para comemorar em reunião mais um ano de vida. A coisa retroage: o ano já se passou e assim se conseguiu completar mais um determinado tempo. Comemora-se o quê, então? As vitórias? As conquistas e as ascensões? E se não houve nada disso, o que comemorar? A neutralidade, a estagnação e as mesmices da humanidade são dignas de festança? E se foi um ano de baixas, de perdas e derrotas? Ah, mas comemore-se o que se venceu, mesmo que seja em menor quantidade do que aquilo que se perdeu, o que importa é chegar até aqui, vivo. Aqui aonde? Vivo de que jeito? Basta respirar? Tradições centenárias pra não dizer seculares necessitam serem revistas. Penso que o aniversário merece outro tipo de celebração. Não havia muita gente na sala do hospital na hora do nascimento. Eles vieram depois. E outros não ficaram. E outros partiram ao longo dos anos. A outra sala hoje estará com pouca gente. Ele queria é estar bem longe daqui. Desse frio, da sala pequena, das comidas sobre a mesa. Um estrogonofe, um bolo sem velas e uma cantoria, já não fazem mais sentido. Nada mudarão. Quando o caminho é a introspecção, requer-se o isolamento, mesmo que seja monofásico. Tudo isso é adereço, perfume, embrulho, encadernação de um livro apenas escrito. Quando a gente elege coisas mais importantes na vida, as outras coisas importantes deixam de ser, e passam a integrar o rol das superfluidades. Ao mesmo tempo, ele ainda não descobriu o caminho que levasse até a data certa, na profundidade certa e bem medida das coisas, sem exageros nem obrigações. Ele não queria ir nessa festinha. Ele já não gosta de comemorar tradições. Ele não quer comemorar o passado. Ele nem sabe acabar esse texto. É que ele ainda não aprendeu a comemorar o amanhã... 




 Soneto de aniversário 

 Passem-se dias, horas, meses, anos 
 Amadureçam as ilusões da vida 
 Prossiga ela sempre dividida 
 Entre compensações e desenganos. 

 Faça-se a carne mais envilecida 
 Diminuam os bens, cresçam os danos 
 Vença o ideal de andar caminhos planos 
 Melhor que levar tudo de vencida. 

 Queira-se antes ventura que aventura 
 À medida que a têmpora embranquece 
 E fica tenra a fibra que era dura. 

 E eu te direi: amiga minha, esquece... 
 Que grande é este amor meu de criatura 
 Que vê envelhecer e não envelhece.  

- Vinícius de Moraes 



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