...dos amores
indignos, das paixões rasteiras, das amizades mortas, dos parentes arredios. Do
silêncio, das rejeições, do não reconhecimento. Do coleguismo vazio, dos
vizinhos ocos. Dos omissos, dos covardes, dos indiferentes. Dos politicamente
diferentes. Do sexo fútil. Da televisão, da Tribuna, do Paulo Coelho e da
Simone cantora. Dos shoppings, da Fórmula 1, da obsolescência. Do irmão. Da velha
infância. De sonhar. De amar alguém.
EU ME ESQUEÇO DE TANTA COISA...
...laranjas na
geladeira. Pães de centeio no armário da cozinha. Farinha de trigo que vence. Garrafa
de vodka que derrota. Da Pastelaria Brasileira, como pode isso? Pegar as toalhas de rosto do
fundo da pilha. Passear com os cachorros, dar banho neles, vaciná-los. Tirar o
pó, varrer o jardim, colocar grafite no cadeado do portão. Comprar guardanapos,
azeite de oliva e sementes de abóbora crua. Lavar o carro, aparar sobrancelhas,
pedalar no Parque Barigui. Caminhar lentamente na Rua das Flores. De agradecer
à mãe. Orientar as filhas. De continuar os livros dos outros, de terminar de
escrever os meus livros. Trocar os CDs do carro. Tocar violão em paz. De arrumar
todas as malas pra Pontal. De desejar alguém.
MAS EU ME LEMBRO DE VEZ EM QUANDO...
...da primeira
poesia. Do ano novo lá em casa. Do Cine Condor, Beto Lanches e do mumu chorão no
Billy. Do Bife Sujo e do Saul Trumpet Bar. Do Lancelote, do Sarinha, do 1250. Do
McCartney na pedreira e do Jean-Luc Ponty no Guairão. Da costela do Água Verde,
do fusilli na antiga Mamma Carmella, do Mitoca. Do Tuca e de sua irmã. Dos sons
de garagem. Do meu bandeirão do Atlético, do futebol de oito sábado no Juventus
e de salão nos fins de tarde no Jardim Ambiental 2. Dos comparsas
desperiodizados da faculdade, da clínica integrada, da cerveja do Portuga no
bloco de Direito da Federal, da aventura em Ribeirão Preto. Dos papos nas cantinas da UNIBRASIL. Dos carnavais na Ilha do Mel,
da alvorada e de Celinha. Da Marinha. Do colo do meu pai. Da solidão.
E JAMAIS ME ESQUECEREI...
...do encanto dela.
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