quarta-feira, 13 de abril de 2016

Coisas de Amigo


O Pássaro Preto 
Ele me contou da chama violeta, de Saint Germain, da tardezinha. Certa feita, chegou lá em casa mentindo que tirou uma determinada música de ouvido, era da Coro de Cordas. Troquei um violão bandido por um pedal patife. Tinha medo da violência, retraía-se feito bicho indefeso. Pais sucumbidos, irmãos arredios, lançou-se na vida louca e por isso sensata. Passou pela Engenharia Química, foi rei do MPBILA na Universidade ‘Fodegeral’ do Paraná, terminou no Direito entortado marista. Fã número um dos Beatles, fomos ao McCartney na Pedreira, seu êxtase. Gostava de mulher, de pastel, da natureza e do Atlético. Quantas histórias pra contar. Teve contactos com Martin Luther King e Charlie Chaplin em Portugal. Escreveu livro polêmico, tentou lançar movimento chaplista com dois poderes. Rita Lee recusou apoio por aqui. Trabalhou em hotel, até no metrô lusitano. Pegou trem na Europa, parou em teatro britânico, amontoou-se com uma lambisgoia inglesa. Sonhei com ele me visitando, outro amigo em comum também, respectivamente dois e três dias após a sua morte, da qual ficamos sabendo quase três semanas depois. Morreu atropelado no centro de Londres às sete da manhã por um caminhão, dois meses depois de Jean Charles. Levou consigo nossas risadas, amizade sincera, simplicidade na vida e o orgulho de falecer em mesma terra de Liverpool. De lá vieram apenas suas cinzas. Não teve enterro. Seu irmão mais velho ignorou busca pela causa mortis, porque já não era mais família há tempos. Tuca, seguidor de Emmanuel, carregava este pré-nome até no registro geral antes do Antônio Silva. Ele era uma família inteira sozinho, ambulante, mambembe, nômade por opção. Eu via aquilo tudo, mas nunca questionei sua liberdade, desprendimento, desapego e a vida fora dos padrões. Só hoje, reconheço que ele foi feliz assim - fiz bem em nada falar, o equivoco estava comigo. Não vejo isso em mim, essa tal felicidade tim-maiense. Um amigo que atravessa tempo e espaço, há de ser louvado. A música nos uniu e foi o seu estopim: deu-lhe começo, negou-lhe meios, e trouxe o seu fim. Vez em quando, ouço revoada em minhas árvores no jardim... 




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