quinta-feira, 28 de abril de 2016

Tribuna Inestóica




Os Engenheiros do Amor. 
Eles continuam circulando. Eles estão chegando, em alguns lugares. Mas não são os alquimistas. São os engenheiros do amor, mesmo não tendo o reconhecimento natural e necessário do ministério do tempo. Não diplomados pela vida, ainda ousam alguma arquitetura sobre suas obras, tentando decorá-las a disfarçar feito maquiagem sua intenção, modus operandi. Empregam tais métodos, sem anunciar a sua alta racionalidade, advinda de suas experiências anteriores, no sentido de rapidez e conclusão do seu trabalho. Arriscam construções pré-moldadas, dali a pouquinho, já tomam conta do terreno, cortando angulares, obliterando paisagens. Vistosos, imponentes, exímios e lépidos tanto quanto a modernidade tardia requer sine qua non a hodierna tecnologia. Homens e mulheres e transgêneros, todos sem distinção em busca de uma relação consolidada num espaço que ignora as horas. Assim, lembro-me das Cruzadas, borrão na história mundial a pretexto do falso bem. Fantasia, que não consegue encobrir a ponta do desejo, do anseio, do interesse, da conveniência e das carências dos construtores de sentimentos. Sim, eles erguem seus muros com você dentro: cuide-se, não há saídas. Tudo chega pronto, e a fundação sempre é desprezada, ou seja, dure o quanto for bom, se ruir, paciência, não há responsáveis pela ausência contratual. E prepare-se, pois dentro da área conquistada eles instalam todo o tipo de material que trazem do passado, em caixas de argamassas abertas com variada clicheria: desapontamentos e frustrações, enraivecimentos e vaidades, individualismos e egoísmos. Mas a pior característica desses engenheiros do amor, é a posse. Posse que leva no bolso um registro geral, tendo como órgão expedidor o instituto de identificação do ciúme. Pronto, você será domado como se antes fosse fera, domesticado como se antes libertino, e enjaulado como se animalesco. Entregue todos os seus valores, princípios, suas virtudes nas mãos do novo mestre/guia vertical de sua vida, o qual sustenta a condição de sua felicidade em direção aos céus. Não importa se ele ou ela lhe anulam como pessoa humana: esquece e vai, jogue-se de cabeça sem proteção braçal, eles garantem uma boa morada. O começo, é sempre sedutor: cultura, hábitos em comum, vontades cotidianas, similitudes de viver. Pronto, a corda de seda está roçando eroticamente em seu pescoço. Seu lado sadomasoquista sai de suas entranhas e contamina sua razão, em nome daquela emoção passageira sem ingresso. O sexo, é uma das formas de dominação dos engenheiros do amor. A inteligência, outra. Os sonhos...enfim, eles têm técnicas artificiosamente melindrosas para lhe conquistar, isto é, apoderar-se de sua liberdade individual, a Sua paisagem. Sim, amigos do mundo, eu aprendi a lidar com esse tipo de gente. Não durou muito, fui forte o bastante para pular o muro que se montava ao redor da minha essência. Continuo desacreditado no amor, os engenheiros são muitos, até já falei deles uma vez. Escrevo isso hoje em função da procura de uma foto minha nos anais do que não vivi. Agora, depois do tempo, vejo quanto foi o tempo perdido, nesta releitura que faço de um vácuo nem tão recente em meu espaço. Ainda defendo a tese da naturalidade das coisas, das relações, das construções imateriais, do respeito ao tempo que tudo na vida requer para que tudo se desenvolva de acordo com a adequada evolução. Primeiro, um terreno, depois a preparação dele, então a semeadura, o acompanhamento dos brotos, manutenção, regada, florada, e tudo o mais que o amor necessita erigir sem artifícios, mas sim e apenasmente com os elementos da natureza. Por isso, a dificuldade de se encontrar alguém que chegue até você sem containeres do pretérito. Alguém que esteja disposto às novas possibilidades, crescendo junto e independentemente, preservando individualidades e fomentando reciprocidades. Comungando tempo e espaço, em nome da paz que deve reinar numa relação a dois. Minha tese é tão utópica, que eu fiz ideia de que todas as relações são distopias. Prefiro assim, do que ser objeto de consumo das vontades alheias. Como naquele vento que veio do nordeste, e eu quase me lancei ao escuro, despertei quando vi o tamanho do muro: não transformei isso em passado meu, apenas em aprendizado, o que é brutalmente diferente. Este, é cognição para o futuro; aquele, é retrocesso para o jamais. Um dia ela encontra quem se submeta, será portanto alguém submisso, sem bússola, nem tesão para navegar. Pois tudo que é de areia, pode até parecer bonito, mas o mar é soberano. Já é noite, e me esqueci de dar o macarrão que sobrou na geladeira para a ceia dos cães. Penso que eles também merecem novas possibilidades...   


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