quinta-feira, 14 de abril de 2016

Exonerando Miss Daisy


A violência se manifesta também em formas não tradicionalmente violentas. Ela pode não se concretizar materialmente e vir noutros planos, como ‘simples’ ameaça por exemplo. Ou feito silêncio, um ingênuo recado, manifestação de pensamento até mesmo disfarçada de "meu bem". Recaindo sobre nosso mundo, todas estas formas são no mínimo chuvas ácidas, nada refrescantes, inférteis até, tentando equivocadamente revolver a terra que já não era produtiva neste caso. Na luta contra esse tipo de investida, nos protegemos com as nossas verdades, digo, limites, cercas e indicativos da honestidade. Mas os agressores insistem, transformam realidades de acordo com seu ego, suas carências, suas vontades particulares e tantas coisas mais, que justificam apenas o invasor, por vezes tomado da cegueira relacional, ignorando completamente o agredido e sua sinceridade, ou seja, minha aversão à quimera sentimental. Ofendido, recuso-me a permanecer em solo de ataques. Minha chuva é outra, minha terra também, inclusive o mar. Parto tranquilo, de tantas vezes que avisei sobre os perigos da navegação sem nau. Mas tem gente que não respeita as condições do tempo, adora embarcar numa ilusão, não aceita apenas a amizade. Quer fazer dela, um trampolim para o amor, aquela coisa que eu desconheço, pois definitivamente não é minha praia. Décadas de vida, e não saber conduzir relacionamentos, a ponto de sacrificar mais uma amizade em função de um desejo, infelizmente há aqueles que agem violentamente desta forma, sutil mas arriscada ao extremo: deu no que deu. Não sou terapeuta de sonhos, ansiedades, apetências, quereres, fantasias nem frustrações alheias: curem-se (ou não), mas bem longe de mim, posto que, em síntese, não há distância simplesmente por não haverem dois pontos, inexiste qualquer tipo de reta. Nem me importa o que vão pensar ou falar, minha consciência é soberana. Canso de dizer que não sou caçador, não vivo numa selva e tampouco seria presa. Que o adeus subentendido em frases explícitas ilumine as nuvens do norte, evaporando a acidez do engano, conduzindo-as para onde haja necessidade de semeadura; tem muita gente esperando, procurando, atirando, árida por isso e aquilo. Mais pela outra do que por mim, já galguei estrada infinita de mão única. Como sempre, no final o maluco sou eu. Assim, meu cemitério de amigos vai aumentando, cada lápide com seu motivo, sua causa mortis. Chega de latim, continuo dispensando sentimentos alheios, eu quero é somente fazer o que mais gosto, que é, à minha maneira, abrasileirar a minha paz. Para poder escutar a música doce que eu ganhei, porque o instrumento, eu sei muito bem tocar sozinho. 


"A Chuva" - B. Powell/M. Einhorn
por M. Menghini


Nenhum comentário:

Postar um comentário