Não adianta um ponto final. Meras
reticências, nem exclamação. Uma despedida, um adeus, sinais de aceno, aperto
de mãos, aquele abraço. Uma carta, mensagem, recado, aviso, ligação urbana. Um gesto,
um brado, um grito, tampouco o silêncio. Tudo em vão. Quando começa o fim,
inicia-se uma fase que não se acaba. Um encerramento que não termina, se
eterniza em tempo e espaço; todavia se se acabasse, seria como se o todo ou o nada
voltasse. O fim, não tem final. É um começo que corre pelo sangue enquanto
houver corpo, se escondendo nas sombras das vísceras, dos órgãos e dos ossos. Não
há força muscular que o expulse, tornou-se, o fim, uma parte oculta em nós,
jeito de lua. Por mais que digamos, que neguemos, que fujamos, ele está no meio
de nós em lugar do que sugere a escritura. Escrevê-lo, desenhá-lo, pintá-lo, contá-lo,
é sempre mentira. Não há o que se fazer com um fim em si. Evaporássemos, ele
precipitaria sobre nossa imagem na lembrança do pensamento alheio. É um fim
invasivo, disseminador, imperial. Uma conquista espacial e temporal, sem cortes
nem sangue; com ardência e dor, muita dor. Um verdadeiro paradoxo, o fim tem
natureza de começo, embora não seja o mesmo. Porque é um recomeço a cada manhã, caracterizando uma continuidade
sem solução de. Quando chega a noite, mais recomeço, mais lado escuro, mais luz
na consciência daquele amor que nunca pode ser um amor. Um amor que recebeu
título de dor, ausência de cor, desprezo de flor. Já se usou de tudo para que este
fim se acabe. Mas absolutamente nada será feito, para que ele vá-se embora. A afirmação
do fim, sua presença, é a justificativa permanente para todo e qualquer momento
em que se pense, como era antes do tudo se transformar em nada. Enquanto houver
fim, em mim eu permaneço. Não quero a verdade de um começo propriamente dito. Começos assim, são
aqueles períodos onde a ilusão serve como sentimento. Onde o sentimento engana
a emoção. E onde a emoção finge que é amor. Letras e glóbulos correndo no papel
e no organismo. E ninguém andando ao meu lado. Ninguém andando sobre meu abismo
imaginário, que é na verdade uma ponte férrea de afetos dormentes: a cada
metro, cada hora, cada aniversário, estação e jantar, pisamos tropegamente em nossas próprias escolhas...
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