domingo, 17 de abril de 2016

Contos Curitibocas



Moro em terra de pinheirais. Onde todos os frutos estão definhando, destruindo-se no tempo, por uma ação que se sabe muito bem de onde vem. Aqui, há muitas árvores. Pessoas imponentes que desconhecem natureza de seu pensamento primário, vegetal, balançam frondosos em pântano de Sir Edgar. Não há espelhos para se reconhecerem palafitas. Mas estão lá, sempre sobre o pódio do planalto. Todos, são doutores. Ora juízes, ora médicos, às vezes psicólogos ou até mesmo físicos. No popular, são videntes, gurus, profetas, distribuindo apocalipses em caixas de ovos. Sempre com a chave do nosso presente na mão, não só explicam o passado e anteveem o futuro com a habilidade de um retórico sofista, mas como também e talvez principalmente nos considerando meros incapazes de encontrar respostas, soluções, caminhos, de forma isolada. Incorporam o deus da hora, e nos estendem suas garras sob luvas de pelica. Eles, sabem sobre sua (do leitor) vida, tanto quanto os calouros de auditório que estudaram tema único. Suas (deles) experiências são compêndios referenciais para a cartilha sociológica urbana, modelo exemplar, croqui fundamental do devir. Caso você não siga seus conselhos, suas diretrizes e suas ordens, estará se marginalizando, ao menos daquele grupo aonde você esteja, embora sem a sensação de pertencimento. Tudo bem, é isso aí mesmo. Vale lembrar que existem tantos outros grupos, cidades, gente que não acusa nem julga ou condena. É, gente que apenas passa, olha, sorri e cumprimenta, sem se meter! Isso existe! Mas é bem longe daqui. Mas qualquer lugar pertinho, já pode ser muito distante. Aqui, uma terra de preconceito social, de discriminação social, de segregação social, que na verdade nada poderia se considerar social. É sim um individualismo à flor da pele, buscando identidade no jeito inquisitório de ser, onde houver julgamento, tem-se conveniência. Uma ostentação piramidal que implora pelo seu vértice. Coitados, jamais chegarão onde pensam que já estão. Aquela elitista e berniana corrente pseudocitadina do passado, deixou elos de plástico espalhados pelas ruas das flores: mais uns quatrocentos anos para se decompor. É outra Austrália sem azul. E com um verde-amarelo privatista demais. Branco? Aqui o arco-íris risca em sépia e chove em cinza, com um pote de pinhão seco no final. É quase impossível conviver em Curitiba. Mais provável a quem se arrisca, é comer pastéis especiais. É muito difícil amar em Curitiba. Mais provável a quem se habilita, é juntar diplomas vegetativos...     


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