segunda-feira, 25 de abril de 2016

Contos de Cassiopea




O Universo É Aqui 
A oito mil anos-luz, uma nebulosa banhada a vento solar, envolve uma estrela central. Difícil imaginar vida em coisas que não podemos observar direito. Como também é difícil observar direito, coisas da vida que não podemos (conseguimos) imaginar. A vida lá, tão distante; a vida cá, mais ainda. E seguimos lutando contra o vento estelar, disfarçado por aqui de brisa continental, às vezes feito ar marinho. Ora a favor, ora contra sua direção. A capacidade de observação do ser humano, tão crítica quanto suas próprias concepções, maneira de obtê-las. No sentido de aproximação do que seja verdadeiro. Vamos muito, ao formarmos opiniões, ao optarmos por caminhos, ao definirmos sentimentos, no embalo das nossas conveniências, sempre voltando-nos para aquilo que seja melhor para nós. Pergunto-me, por que tanto e imediato egoísmo; individualismo, se isso ofender. Um pouco mais além e deixo no ar a dúvida: essas nossas conveniências não possuem também, uma natureza passageira? Volátil, gasosa tal qual nebulosa? Resistimos em segurá-las, enquanto passam os vendavais do silêncio, enquanto giram os tufões da indiferença, enquanto devastam os tornados da crueza e os ciclones do medo sobre terras de personalidade? Todos estes avantesmas de vapor, nos quais pegamos carona quando nos encontramos no centro de uma encruzilhada, para ajudar a nos conduzir pela nossa própria vida, é isso aí: a fila anda. Mas é vento, e por isso ninguém sabe onde vai. Mesmo assim, vamos junto, só para não ficar ali. Ali, aguardando tempo certo de decidir sozinho, com autonomia e independência que a evolução requer. Não, o protocolo é jogar para um deus, para o destino, para cima, sem reconhecer que estamos vaporizando ou sublimando nossas chances, nossos encontros, nossa paz: somos físicos de botequim. Não, nós temos pressa. Precisamos concluir tudo ao redor. Mesmo se não nos conhecemos a nós mesmos, tampouco os outros, pares de caminho. Aparece uma pessoa em sua vida, e logo após os primeiros contatos, por vezes mediatos, você a coloca na prateleira com identificação em etiqueta colorida - aqueles stickers da Kalunga no meio da testa imaginária do apenado da vez - criando um catálogo empírico de estrelas científicas. Nunca sem anular a voz do outro, quiçá aquilo que ele sente ou minimamente pensa. Voamos embora, sem a destreza de um condor para saber como voar; cruzamos os céus personalíssimos, num círculo rasante que pouco depois nos traz de volta ao marasmo do entroncamento - essa coisa de novas possibilidades é apenas negócio de comercial de automóvel - mas agora livres do que deixamos para trás. Sempre sem termos questionado o que realmente há de concreto num adeus. Esquecemos que os próximos, não são objetos, são humanos. Mas o rótulo, o carimbo, o estereótipo e o estigma se fazem necessários, pois não admitimos cometas em nossas rotas: vai que eles aterrissam bem no centro do nosso coração...   




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