segunda-feira, 18 de abril de 2016

Contos do Bloco 6 - Parte I



Karina, Objeto do Prazer. 

Qualquer semelhança, é prenúncio de veracidade. Naquele filme de produção vintage da Boca do Lixo, uma realidade trintenária no depois. Nome parecido, o título era a síntese da moça que não conseguiu fazer história no peito daquele raparigo mal casado. Uns dez anos de diferença, foi num curso superior noturno que se entreolharam com mais de dois pares de olhos, para em apenas duas semanas estimularem gônias e trocarem gametas. No fim do primeiro mês de aula, já estava explícito. Até pareceu que haviam entrado na faculdade, menos para estudar. Ele investiu tempo vampiresco, arriscou-se pela bucetinha rosácea da polaquinha atrevida, Dalton tinha escrito nas linhas tortas da humana cidade. Ela, pariu um amor aristotélico pelo charmoso vendedor. Ignorava a esposa e os dois filhos pequenos dele, que no frigir dos óleos também acabava fazendo o mesmo. Enquanto ela apaixonava-se pela pica, seduzida pelas promessas falsas de todo garanhão, ele à tardinha chegava um pouco antes do final do expediente no trabalho dela, onde rolava muito anal. Bastou para gamar, não houve necessidade de vê-lo mijando, como impunha o condicional ditado sudamericano. O tempo foi gastando e ela resolveu se abrir com um colega, mais experiente que os dois juntos e multiplicados. Pedia conselhos, ganhava orientação. Este – aqui narrado como Ouvidor – falava para ela ir devagar ao córrego pois conhecia a onça pintuda. Assim que ouvia, ela fazia justamente o contrário, feito um plus no desafio ao tradicionalmente proibido, indicando que isso dava até mais tesão na doce encrenca. 

Karina então ousou e se fez presente perante Cornélia, a esposa de Garanhão. Naqueles típicos barracos em razão dos celulares distraídos. Por sua vez, Cornélia foi até Karina, quase se mataram. Ele as apartou e prometeu mentiras para ambas, claro que em separado. A conveniência do casório era a solidez pela qual ele justificava sua manutenção e também suas escapadelas sexuais, literalmente sexuais, seu coração tinha aliança feito Saturno. Chegou a viajar "a trabalho" com a amante, uma semana em Sorocabana ela passou bebendo líquido seminal: sentiu-se a primeira. Voltaram à real, ela chorava no ombro de Ouvidor. E foi assim o curso inteiro: ele trepava, ela sonhava; ela gozava, ele fugia. Até que um dia, Cornélia ligou para o igualmente casado Mangalarga - o melhor amigo de Garanhão - sem se identificar, fazendo do mistério uma isca. Este, mordeu e quando ela se revelou, ele foi se abrir com quem? Óbvio, com Ouvidor. Logicamente que foi sugerido a ele, mesmo que fosse um outro arrebatador de corpos hesitantes, que nada fizesse, pois a tal irresistível atração anunciada, não passava de simples vingança de Cornélia. Tal qual em Dom Casmurro, não sabemos até hoje se Mangalarga acabou cobrindo Cornélia. Nem Garanhão, nem o leitor, tampouco o Ouvidor. Mas e se aquele primeiro ficasse sabendo? Que moral teria para recriminá-la? 

A traição, não é mais ligada ao sexo. Nem à moral, ou algo parecido. A traição, é hoje fator mantenedor de muitas relações. Convinha a garanhão trair Cornélia, e vice-versa. A duvida, a insegurança, o ciúme, tudo adicionado com bastante vinagre dentro do generoso pote de pimenta da relação, quando se carece de tempero natural, digo, sentimento. Uma certeza, não ocular, fez os filhos deles acreditarem que papai e mamãe se amam. Certo dia, Garanhão chegou em casa bem mais cedo, Cornélia estava se masturbando ao telefone. Do outro lado do satélite, Mangalarga transando com a professora, para que a sua potencial amante escutasse e delirasse, quiçá galopasse. Garanhão fechou a porta e foi ao banheiro, ficou nu. Não sabia o que fazer, enfiou o dedo no cu, afinal, eram seus melhores amigos...o cu de Karina...e Mangalarga. 

Todos se transformam em objetos. E como objetos, vão se deteriorando no tempo. Ora num lugar, ora noutro. Ora com um organismo, ora com outro. Na selva das cidades - neste caso em sua variante equina - a fauna relacional é elemento crescente digno de estatísticas, a ponto de que as análises comportamentais, necessitem urgentemente repensar o que venha a ser essa tal felicidade... 




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