Karina, Objeto do
Prazer.
Qualquer semelhança,
é prenúncio de veracidade. Naquele filme de produção vintage da Boca do Lixo,
uma realidade trintenária no depois. Nome parecido, o título era a síntese da
moça que não conseguiu fazer história no peito daquele raparigo mal casado. Uns dez
anos de diferença, foi num curso superior noturno que se entreolharam com mais
de dois pares de olhos, para em apenas duas semanas estimularem gônias e
trocarem gametas. No fim do primeiro mês de aula, já estava explícito. Até
pareceu que haviam entrado na faculdade, menos para estudar. Ele investiu tempo
vampiresco, arriscou-se pela bucetinha rosácea da polaquinha atrevida, Dalton
tinha escrito nas linhas tortas da humana cidade. Ela, pariu um amor aristotélico pelo charmoso
vendedor. Ignorava a esposa e os dois filhos pequenos dele, que no frigir dos óleos também acabava
fazendo o mesmo. Enquanto ela apaixonava-se pela pica, seduzida pelas promessas
falsas de todo garanhão, ele à tardinha chegava um pouco antes do final do
expediente no trabalho dela, onde rolava muito anal. Bastou para gamar, não
houve necessidade de vê-lo mijando, como impunha o condicional ditado
sudamericano. O tempo foi gastando e ela resolveu se abrir com um colega, mais
experiente que os dois juntos e multiplicados. Pedia conselhos, ganhava
orientação. Este – aqui narrado como Ouvidor – falava para ela ir devagar ao
córrego pois conhecia a onça pintuda. Assim que ouvia, ela fazia justamente o
contrário, feito um plus no desafio ao tradicionalmente proibido, indicando que
isso dava até mais tesão na doce encrenca.
Karina então ousou e
se fez presente perante Cornélia, a esposa de Garanhão. Naqueles típicos
barracos em razão dos celulares distraídos. Por sua vez, Cornélia foi até Karina, quase se
mataram. Ele as apartou e prometeu mentiras para ambas, claro que em separado.
A conveniência do casório era a solidez pela qual ele justificava sua
manutenção e também suas escapadelas sexuais, literalmente sexuais, seu coração
tinha aliança feito Saturno. Chegou a viajar "a trabalho" com a amante, uma semana em Sorocabana ela
passou bebendo líquido seminal: sentiu-se a primeira. Voltaram à real, ela
chorava no ombro de Ouvidor. E foi assim o curso inteiro: ele trepava, ela
sonhava; ela gozava, ele fugia. Até que um dia, Cornélia ligou para o igualmente casado Mangalarga
- o melhor amigo de Garanhão - sem se identificar, fazendo do mistério uma
isca. Este, mordeu e quando ela se revelou, ele foi se abrir com quem? Óbvio,
com Ouvidor. Logicamente que foi sugerido a ele, mesmo que fosse um outro
arrebatador de corpos hesitantes, que nada fizesse, pois a tal irresistível
atração anunciada, não passava de simples vingança de Cornélia. Tal qual em Dom
Casmurro, não sabemos até hoje se Mangalarga acabou cobrindo Cornélia. Nem Garanhão, nem o leitor, tampouco o Ouvidor. Mas e se aquele primeiro ficasse sabendo? Que
moral teria para recriminá-la?
A traição, não é
mais ligada ao sexo. Nem à moral, ou algo parecido. A traição, é hoje fator
mantenedor de muitas relações. Convinha a garanhão trair Cornélia, e
vice-versa. A duvida, a insegurança, o ciúme, tudo adicionado com bastante vinagre dentro do generoso pote de pimenta da relação, quando se carece de tempero natural, digo, sentimento. Uma certeza, não ocular, fez os filhos deles acreditarem que papai
e mamãe se amam. Certo dia, Garanhão chegou em casa bem mais cedo, Cornélia
estava se masturbando ao telefone. Do outro lado do satélite, Mangalarga
transando com a professora, para que a sua potencial amante escutasse e
delirasse, quiçá galopasse. Garanhão fechou a porta e foi ao banheiro, ficou nu. Não sabia o que fazer, enfiou o dedo no cu, afinal, eram seus melhores amigos...o cu de Karina...e Mangalarga.
Todos se transformam
em objetos. E como objetos, vão se deteriorando no tempo. Ora num lugar, ora noutro. Ora com um organismo, ora com outro. Na selva
das cidades - neste caso em sua variante equina - a fauna relacional é elemento crescente digno de estatísticas, a ponto de que
as análises comportamentais, necessitem urgentemente repensar o que venha a ser essa
tal felicidade...
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