Eu. Sou um dos últimos homens de minha
safra, não popular nem por isso requintada. Complexo pela simplicidade,
rebuscado pelo exagero. Detalhista e organizado, já me chamaram de “dormindo
com o inimigo”. Não gosto de programas de humor. Não assisto telejornais. Minha
TV é o youtube. Não compro jornais, minha informação vem dos blogs e sites da
web que elegi. Detesto shoppings, amo livrarias. Não adquiro poesias, as faço à minha maneira, sem profissionalismo e longe
do mercado, em reservado e não categórico anonimato. Adoro Kapra, Kafka e Kardec. Sou fissurado em
Inárritu, nouvelle vague e na Caravana Holiday. Odeio Roberto Carlos. Cazuza
pra mim nunca foi poeta. Muito fracos são Zeca Baleiro, Jorge Vercillo e Pato
Fu. Rap, Funk e demais semelhanças são aculturações nocivas com pleonasmo
proposital. O verdadeiro Sertanejo, não passa no vestibular. O Samba já morreu, pagode é assombração.
Sou desprovido culturalmente da música clássica e do jazz. Meu negócio é Led
Zeppelin, Eric Clapton e U2. Nando Reis, Skank e Ellen Oléria, anos antes da fama. Não componho, nem
faço solo, não tentei piano. Tenho dois violões e uma guitarra. Dois labradores e umas quatro
aranhas-marrons. Não como bucho, dobradinha, língua, fígado, miúdos ou quaisquer outras
entranhas animalescas. Vinho me dá cefaleia, curto Steinhäger com limão, mas estou
abandonando o etanol em geral, a cerveja está em processo de desamor. Faço dieta, academia e palestras. Duas
faculdades, nenhuma pós e algum conhecimento suficiente. Simpatizo com o espiritismo, o
esoterismo, o ocultismo e o onanismo. Não sou religioso, apenas medito, tentando deixar este ser menos maldito. Não sou
preconceituoso, mas tenho aversão a evangélicos, políticos, MCs, japoneses,
flanelinhas, norte-americanos, coxas-brancas e vizinhos, claro que respeitando as exceções e a inexistência de exceções para MCs. Sou
um eclético social, converso com frentistas, entregadores de gás,
desembargadores e outros vizinhos, os decentes. Tenho queda por jornalistas, bailarinas,
domésticas, ruivas e negras. As morenas, são minha utópica fantasia, alimento placebo. Sou hetero, adoro
sexo oral e anal e meu prazer é dar prazer a elas, principalmente através de massagens. Tenho mãos grandes e pênis grosso de comprimento um pouco além da média nacional,
ambos macios, é o que dizem ou diziam, pois meu último corpo despachou-se em definitivo para o carnaval: hallelujah. Tenho oligospermia, mas duas filhas lindas. Alérgico ao sol sem protetor, corante amarelo, queijo, tartrazina e a homens mesmo sem ter tido um primeiro contacto, a repugnância basta. Sou
um tanto calvo e insaciável de cafunés, carinho e cunnilingus, todos amplos, gerais e irrestritos. Tenho força nos músculos e nas minhas coxas, nas minhas frases e na
minha sensibilidade, nos meus valores e nas minhas virtudes que formei e desenvolvi. Abomino
ironia, deboche e sarcasmo. Não tenho amigos, coleciono mortes de amigos e
parentes. Louvo meu pai, avô e tio, como também Nietzsche, Hendrix, Leminski, Darci Ribeiro e Abu, todos ainda comigo, apesar de não mais aqui. Tenho mil verdades, quinhentos colegas e uma só solidão. Acredito em
disco-voador, não creio no amor. Jamais irei a Nova York. Ainda não fui à
França. Quero ir a Machu Picchu, Creta e Altamira. El Camino, programado está para agosto de 2016. Alemães e russos são os maiores frequentadores deste espaço: europeus, gente solidária também com fome de vida. Às vezes, me acho quase
totalmente deslocado na sociedade, uso até ponto e vírgula; pensando um pouco mais, sou feliz assim
mesmo. Sou um ser unilateral, nunca soube de mim por outrem, deve ser por isso que não amei. É o que sei, por hora, de mim. O passado, já não me interessa mais.
Do amanhã, nada sei, apenas faço contar as horas de hoje para chegar logo ao futuro. Moro numa caverna, aconchegante. Em breve, vou morar numa esquina do mar. Lá terei a vida que quero, na deserção que já escolhi, dentre o pouco que me foi merecido viver...
Nenhum comentário:
Postar um comentário