ITER CRIMINIS
Há uma criminalidade paralela
cortando em traços diagonais por dentro das margens da sociedade. Um mercado
negro do ilícito, permeando a (an)dança dos indivíduos. São condutas não
tipificadas, que não cabem nos códigos e não se submetem à lei dos homens. Atos
ou comportamentos que não recebem acusação, são impedidos de serem julgados e
incompatíveis com sentenças, (in)justamente por ser um mundo paralelo, sem
subsunção da realidade. Uns diriam que são crimes de pequena monta, cuja
irrelevância é tão insignificante quanto o roubo de um pão francesinho para o
almoço de um miserável que nunca teve inclusão – a novela da reinserção social
não passa na TV de quem nunca foi inserido única vez sequer. Uma figurada modalidade de sequestro, é um dos maiores exemplos. Falo do sequestro
sentimental. Aquele que faz refém uma única vítima, presa não se sabe se
voluntariamente ou não. “Mas como alguém poderia estar sequestrado
voluntariamente”, gritou o cético. Isso ocorre quando a pessoa já perdeu a
noção do que ela pensa. Então, sem controle de si mesma ela se deixa levar. Esse
descontrole, não é voluntário; o fosse, estaria dominado, sossegado, afastado
da tal criminalidade. O ofendido, por não se sentir mal, ao contrário,
entrega-se aos ventos daquela sensação agradável de imaginar determinada coisa,
situação, vínculo. Sim, há o sequestrador, a vítima e o cativeiro. Onde fica? O
cativeiro está aonde for lembrada ou sentida tal situação. No ônibus, no banco,
no trânsito, na fila da loteca, na casa da mãe, na casinha do cachorro, no
chuveiro, qualquer local é lugar de cativeiro. Um refém em excelência, digno de
um romance para Hercule Poirot desvendar. Sabe o que se sente, premissas estão definidas, mas
quando o meliante entra em ação, tudo cai por terra, reiniciando o ‘iter
criminis’, ou “o caminho do crime”. Que se consuma toda vez que a vítima
sucumbe à intentada do autor, seja esta o que for. Uma flecha invisível no
peito, um tiro imaginário na consciência, uma facada cravada no pensamento, uma
explosão ressonante no coração. Atingido, ele para na lateral do seu caminho fugidio
por racionalidade, e olha pra trás. Vê que não há passado. Olha ao redor, também
não há presente. À frente, um amanhecer que ainda não veio. Então ele senta-se embaixo
de um ipê e se pergunta quanto tempo mais isso vai se continuar. Se ele não pode
fazer justiça com as próprias mãos e partir no encalço de quem se mostra como réu
de sua vida. Tanto que se repetiu, que parece consórcio de agentes. Mas quem dispara
é uma só pessoa. E quando faz isso mata. O pior, é que não se sabe se se mata uma
certeza. Ou se se ressuscita um amor...
- moral da história: os criminosos,
eles deviam ter coragem de praticar seus atos em público, à luz do dia, à frente do próprio alvo. Assim, seriam
reconhecidas. E a vida não fosse resumida simplesmente a um infindável romance de papel...
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