CHAOSFERA
O
caos em mim. Dimensão celular da caótica sociedade orgânica. Não comecei, mas
penso que o caos partiu de alguém. Ou de várias pessoas, por sua porção
individual, desligada do mundo ou não adaptada a ele. De tanto ver gente ao meu
redor emanando caos, fui atingido e passei a gerar também, fator contagiante e
patogênico. Mas meu caos é diferente, vou tentar desvendá-lo, já que o descobri
por aqui. Nesse por dentro, que também é ao meu redor. E talvez se espalhe em
direção ao meu futuro, posto que presente continua sendo tudo aquilo que
fazemos hoje, germinal ou fatalmente repercutindo depois. Já depois de amanhã,
pode até ser. Instalou-se em alguns departamentos dentro de mim. Fez confusão
geral, principalmente em âmbito relacional. Estou me distanciando do mundo
humano, em muitos sentidos. Não só o físico, mas o afetivo. Pareço
eliminar, feito compulsão, toda a paciência e a credibilidade nos elementos da turba próxima
a mim. Cicatrizes pela alma e escaras pelo espírito, em corpo límpido. Sem rancor, mágoa ou arrependimento, vou me desfazendo dos laços que se
desataram por vontade alheia, indiferença e generalidades idem. Saio como quem
vai ao cinema, totalmente despreocupado com os fins das relações. É um misto de
coragem e desapego, retidão e disparada. Uma sensação de leveza, sustenta-me
por entre as conscientizações da realidade. Não ligo se é um paradigma e a
comunicação social está sendo transposta, eu estou aqui mesmo, partindo a cada instante, música ou poesia. E a falta de
sentimentos negativos que me amarrassem ao chão das coisas, é experiência que me
preenche de maturidade, equilíbrio, dando conforto ao caminhar. Por ver e rever
o que seria irremediável, o que é desconexo e o que foi encerrado, meu
comportamento de preventivo passou a curador. É, eu me saneei. Muito mais do
que basicamente, fui além das perspectivas. Enchi a casa do meu peito de pontos
finais. Sim, em função do caos urbano. Mas em seu conceito primordial, o caos não
se limita às finitudes, ele parece anunciar algo de transformador à frente, não operando somente à minha volta. Há criação
de um espaço-tempo que deixa no ar a sensação de novidades, possibilidades,
outras palavras. Soube disso somente agora. Desatenção, pois eu poderia ter
olhado atentamente para o lugar que sempre existiu ao meu lado em minha cama: frio e onipresente. Hoje, sei que era apenas eu quem esteve por ali, em
incursões notívagas de sonhar maravilhas ou aterrorizar pesadelos. Agora, sei que o meus caos é só meu, ninguém o trouxe. Os outros, são frutos da minha respiração equivocada. Não
precisarei dar tons absolutos, apenas o reconhecimento de que seguirei só. É a
minha maneira de resolver o meu caos pessoal: depurando-me, de gentes e de mim
mesmo. Organizarei um sistema para que eu possa dar sentido à minha existência:
desafiando aquela coisa chamada vida. Porque se eu deixar que ela me leve, limitar-me-ei
às benesses do caos geral: conservadorismo, omissão, calmaria, solidão e toda aquela tradicional conformidade. Eu seria apenas mais um, fora de mim, longe de todos,
no seio do caos, na lâmina da navalha ou na iminência da cruel armadilha de um grande amor...
Um
cheiro de Morte vem
do
Norte
cidade
descoordenada
Pessoas
se Afastam feito
ventania
Vizinhos
são defesos dos seus
Próximos
há
um movimento centrífugo
egos
matam Essências,
que
fogem em disparada para
lugar
nenhum
permaneço,
Só
nem
mais a Solidão restou
ao
meu lado, o vento
e
todas as folhas voltadas
para
a direção
antônima do poente...
- poesia incidental:
[porque na ‘solidão’,
o ‘idão’ tapa o ‘sol’
se apenas ‘só’,
há um ‘lidão’ pela frente...]
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