MAR À VILA
No
mercado marítimo do amor legítimo, fui paralelo contrabando, ora escambo e
vulgar. Para mim contravenção, o que para elas foi sempre irrelevante. Eu sabia
tudo, nada sentiam. Que nem em crime daria, este vulnerável peito de emoções
ilícitas, abissais. Insuficiente, restei na base da plataforma sentimental, às
margens da sociedade afetiva, do lado de fora de todos os corações. Alguma
coisa na existência me impediu tal prazer, não fiz jus a tanta felicidade, como
se pudesse haver pouca, ou intermediária também. Vê como tamanha, aquele que
nunca viu. Quaisquer gotas, são chuva. Qualquer réstia, é sol. Toda terra é chão
e todo vento é direção. Um brilho é prata, outra cor é ouro, quando não se
entende do assunto. Dos pássaros fiz liberdade. Meus animais domésticos reciprocidade
foram, e eu sem nenhuma companhia racional. Os sons da natureza, eu louvei.
Suas cores, eu pintei sem desenhar caminhos. Só fiz rabiscar palavras em papel
tão branco e vazio quanto minha vida de paixões migrantes daqui. Tanta força
(na ausência) de sentidos, que ainda sou menino de realizações, apesar de senil em experiências. Um paradoxo em mim, extremos que jamais se uniriam. Talvez o
amor fosse uma ponte. Construí metades, pelo menos sobre as águas do destino, que
logo me levavam embora dali, sem me machucar, nem correnteza. Não havia espaço para lamentação,
o tempo já chamava de volta para o mundo real do não ser. Cais de ninguém. Não vi
gnomos em minha floresta. Nem alienígenas em meu céu. Mas sempre tive a
consciência de que, no meu mar, fui imperial navegante. Passeei pelas
superfícies das relações, linha d’água divisória sobre os aconchegos.
Mergulhei, eu sei: em vão, no oco, para o vácuo, pelo nada. Oh, dor que me
alimenta, tenha paciência com este marujo, continue-se eternamente amarga em seus
ácidos aminos. Pois se você cessar, eu afundaria no mais raso texto, sem ondas doces
que pudessem me atracar...
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