quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Vanglória Deus



Ah, como ela adora aparecer! Pode se tirar o A e o “parecer” também cabe direitinho nos anseios dela. Nunca as redes sociais tiveram tanta razão de ser. Ou de “estar”. Não importa o verbo, e sim as imagens. É a típica ‘cultura de superfície’, inventei isso agora, ao escrever sobre quem raramente o fiz. Quem vivia trancada em seu cansaço, sua falta de dinheiro e a proteção integral aos filhos, hoje, com o mesmo esforço e um pouco mais de capital, passeia pelo mundo não sem registrar nas páginas virtuais suas belas aventuras; claro que agora sem os filhos, então filhos do mundo, outrora justificativa para a clausura. Escolheu outro homem para chamar de seu, uma dessas religiões para chamar de sua, e compartilhar o sentimento de prosperidade no culto, que significa a mesma coisa que ostentação fora dali. Precisava de um deus para remover suas culpas e de um Jesus para pedir desculpas, ambos tutores de seus pecados. Sexo? Basta ajoelhar-se aos pés da cama e orar ao Senhor. Álcool? Basta compensar com o dízimo. Ruindade? Tem culto domingo. Ódio? O pastor abençoa: a doutrina vai até onde lhes convém. Tudo novo e a felicidade estampada no sorriso de quem só tem o sucesso para mostrar, mas nenhum valor humano guardado, nenhuma virtude a ser descoberta. Mas a rede é de seda. Atrás, ao redor de cada imagem, palavras subliminares ora sussurram, ora gritam “olhe como estou agora”, “veja o quanto eu mereço”, “saiba o quanto eu posso” e tantos outros recados que afastam toda e qualquer aproximação de humildade, senso e até mesmo lógica. Isto sim é que se chama de biodiversidade. Problemas de ordem psíquica, sequelas de um passado onde foi injusta, desleal, cruel e sobretudo omissa em relação ao seu sentimento, quer dizer, à ausência deste. Fosse honesta, poderia estar ou ser feliz bem mais cedo, talvez até sem os filhos que hoje já nem liga mais deixar em casa, ou na rua, em qualquer marcador do binômio espaço/tempo. Infelizmente, só aprendemos a descobrir o ódio contido em alguém, muito além do que deveríamos. É o popular “tarde demais”. Difícil conviver com pessoas com ódio, caso você não o tenha. Vai-se até um limite, inevitável o fim. O grande problema, é a fase antes do fim, igualmente acabada, encerrada, livre ou ausente de afetos e perspectivas. Há de se reconhecer esta fase, e tomar medidas nada conservadoras, tampouco ilusórias, mas sim radicais a ponto de libertarem-se, ambos, do factoide que é o casamento sem amor. União sem reciprocidade, é falsidade. Vivemos em meio social, não podemos nos apresentar assim. No máximo, entende-se a divulgação de aparências e ostentação imagética embalada nas redes. Há quem goste, quem aplauda, quem vibre e quem faça o mesmo. Cuide-se bem, ao conhecer alguém. Vá fundo, até o porão e o sótão, no jardim, na garagem, na despensa. Mostre-se por igual, todos os seus cômodos, inclusive seu banheiro. Senão, você correrá o risco de ter que ver tudo isso mais tarde, demonstrando o erro que foi seu, ao permanecer junto de alguém que não lhe merece um só dia de companhia. Não é o amor que cega as pessoas. Pode ser o sexo, a paixão ou a ilusão. Quando se recupera essa modalidade de visão, enxerga-se até o fundo. Seres superficiais sempre têm justificativas medianas para seus atos e omissões. Seres profundos, sabem que atrás das aparências, há engano. Somente eu conheço seu escudo de trabalhadora. Sua armadura de guerreira. Pessoas que utilizam o próprio trabalho como justificativa de suas ações, omissões, ausência e inversão de valores, são provavelmente o pior tipo de ser humano. Pois resumem-se ao tipo de ser, ou de “estar”, fundado na fachada das aparências, onde fica a janela aberta do ego bem vestido. “E as tuas crianças, meu bem? Levamos junto?” “Deixa pra lá. Presta atenção amor, é só nós dois agora! Mais uma selfie aqui pro face!”. “Para quê isso, querida? Você quer demonstrar algo para alguém?”. “...”. O silêncio, é a segunda característica que mais roupas (disfarces) tem em seu closet. Só perde para a indiferença... 


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