Adoro as músicas em mi menor com nona aumentada.
O bordão toca lá no fundo, onde eu abro o sótão para entrar um pouco de ar e
som. Parte secreta de mim, lá escondo os mais nobres sentimentos. E por ser
assim, de natureza vetorial, se eu os escondo, a não revelação me faz seguir
só. Enquanto a canção toa, arrumo as coisas no lugar, à meia-luz natural que
vem de uma só janela, envidraçada, sem madeirame que pudesse também ocultá-la.
Cantinho aconchegante. Uma chaise longue de textura quase humana se estica
convidando-me a contemplar os outros acordes na sequência. E quando muda para
um sol maior, eu me revigoro, a ponto de fazer dali, um centro de reflexão, uma
academia de exercícios sensoriais, trabalhando a porção física da alma. Então,
eu reitero meu aprendizado, reoriento minhas condutas e rego meu desamor. O faço
no sentido figurado, apesar de haver água dentro do corpo. Simbolicamente, me
despeço ao fim da melodia e vou-me embora para o cotidiano. Uma habilidade que
só importa a mim, separar o coração do dia. Ando por aí em horário comercial,
mas em mim vinga a clausura. Como é bom voltar para casa e ter aonde ir levado
pela música. Há quem se dirija às redes sociais, balançando ao ritmo das
postagens. Minha chaise, tem pés de mogno emborrachados com látex de
seringueira nacional, onde regozijo. A janela está bem fechada, apesar das ventarolas que mantenho semiabertas. E assim passam os dias, complementando-se às
noites, enquanto um câncer indeterminado não vem..
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