quarta-feira, 29 de novembro de 2017

O Sobrinho que eu não tive.




Atleticanismo. Um dom para poucos. Muitos atleticanos não têm isso. Mais que uma paixão, mais que uma ideologia ou filosofia, é um jeito de ser e estar emanado pela alma. Quem o é, sabe como é. O meu, não veio por opção, instalou-se pelo sangue pois meu avô foi atleta do clube quando da fusão de outros dois, em 1924. Cedo, deixei aos 9 anos de ir aos jogos com meu pai, porque estouraram um foguete ao lado de minha cabeça, ele ficou indignado, questão de segurança. Aos 13, após a morte dele, voltei ao campo sozinho. Somente depois dos 18, comecei a ir acompanhado de meu tio. Ronaldo, quando o Atlético perdia um gol, quase me matava de nervoso, demos muitas risadas. Consegui esconder dele, as lágrimas que sempre soltei quando o time entra em campo, lembrando do meu pai e do vô, pai dele. E foi um grande companheiro, durante anos, até o meu casamento, quando passei a assistir em casa pela TV a cabo.

Não tive filhos homens, e o destino que levou precocemente meus antepassados, também não me trouxe sobrinhos homens, que eu pudesse conviver, criar, educar de maneira presencial no estádio, questão cultural, formação. Mas a vida é mesmo uma surpresa que se revela na medida em que prestamos atenção e interpretamos corretamente seus acontecimentos, estabelecendo conceitos e compartilhando convivências a partir do não acaso. 

Entrando no tema, vamos saber um pouco mais sobre um determinado sujeito. Da minha altura, e até um pouco mais gordinho do que eu, desembarcou de São Mateus do Sul um piá cabeludo e sorridente, veio fazer cursinho. Num piscar de olhos, estava na Federal. Já mais alto, as outras mudanças nesse primeiro ano de capital foram radicais. Aprendeu bateria, começou a tomar cerveja, arrumou namoradinha de iniciação. E também fez algo muito importante: arrumou amigos. O seu AC DC, define-se antes e depois do cursinho. Vizinho dele e de seu tio de sangue, nos reuníamos para rodas de churrascos que atravessaram dias, rodas de cerveja que atravessaram madrugadas, rodas de música que atravessaram sábados, e rodas de caminhadas de atravessaram a serra do Mar. 

Identidade de sobra. Futebol, Blindagem, natureza. Amizades & Família. Marco tem outra adoração: reunir a galera. Volta e meia promove churras, feijoadas, encontros onde junta parentes e amigos, às vezes sem data especial. Marco, sempre foi revelador dos seus pensamentos. Contava-nos sobre suas mulheres, em relacionamentos sabidamente descartáveis, ao mesmo tempo em que fazia planos, ou seja, preparava-se em paralelo para outro tipo de relação, outro tipo de vínculo com alguém que viria apaixonadamente como Peri. Passávamos a ele nossas experiências, valores e orientações, até mesmo dúvidas, coisa que ele é grato até hoje. Sua passagem de garoto para homem foi marcada por sexo, álcool e rock’n’roll, como todo aquele que se preze rubro-negro. Hoje, noutra fase, já é mais pessoa. 

Marco, é um brasileiro diferenciado. Um paranaense raiz. Não mede desafios para trabalhar. Ao contrário, isso o estimula a desafiar o mundo em forma de viagens, meio easy rider, mas com bastante aventura e disposição, jamais sem humildade. Uma de suas principais características, é ter um sonho nas mãos. Ele abre, estende a mão e nos mostra, sem vergonha nem medo de revelar aonde quer chegar. É uma personalidade forte, em semblante de calmaria, equilíbrio e postura. Esse jeito de ser, diz ele, acaba muita vezes até não permitindo que ele demonstre um determinado sentimento. Penso que é a timidez em relação à exposição do afeto, que acarreta isto. Ele sente, mas não precisa mostrar a toda hora, é o seu jeito. 

Marco, hoje tem um amor. Aquele amor para o qual se preparou, a conspiração lhe foi honesta, se fez merecedora. São companheiros, inclusive dos planos, coisa rara hoje em dia. Marco, hoje tem um fusca. E leva seu amor para passear de fusca. Em breve, os filhos deles. Quando houver festa, a mãe que morre de saudade no interior, cuidará dos bambinos. Sua nora tem muitos irmãos, as crias deles terão muitos tios. E se seus filhos forem meninas, que não se acanhem em ir a campo com tios e tias. Em ir para a vida. Marco, desafiou a vida, pois viu que a vida era uma loba da estepe, então luta e vence a cada dia, transformando-a em felicidade. 

Foi essa mesma conspiração, honesta e merecedora, que corrigiu um desvio do meu destino que não me trouxe sobrinhos homens. Mas foi recentemente que me senti com o dever cumprido, em relação ao que o meu tio fez por mim: Marco foi junto, fez companhia nos campeonatos do Atlético neste 2017. Sabem por quê? Porque, simplesmente, o Marco é um bom companheiro. Por isso, agradeço nesse modesto texto ao universo, por ter permitido que eu conhecesse Marco, o sobrinho que eu não tive... 

Feliz Aniversário, Sobrinho! 

p.s.: lhe peço um favor: não se esqueça de estender o nosso manto rubro-negro sobre minha urna em meu velório: daremos, todos, novamente, muitas risadas... 

Música incidental (a melhor que nós, Os Tilápias, conseguimos tocar): 


“Se Eu Tivesse” - Blindagem  - Ana Luisa & Alexandre 




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