Uma casa nada
engraçada, não tinha cozinha, não tinha sacada. Nome chinês, no térreo de um
prédio comercial do Bigorrilho. Recomendado por um daqueles sujeitos meio
mentira, metade fantasia. Gueixas? Coisa exclusiva de paulista. Mas tudo bem,
ele foi conhecer, não tira pedaço. Entre um cliente e outro, encontrou o
estabelecimento. Luxo, muito luxo, mascarando a luxúria do sentido finalístico
do local. Um book, e ele escolheu a mais magrinha, sem silicone, ela “estava” (para
não dizer morava) por ali na região, chegou em minutos. Daquelas do tipo “quem
olha não diz que é”. Muito bonitinha, mas muito mais pessoalmente. Subiram, ele
foi para o chuveiro lavar os pés, ela achou estranho, talvez seus fregueses não
fizessem aquilo. Assim que ele deitou na ‘macama’, ela começou o procedimento tântrico,
apenas relaxamento. Quebrou o protocolo, tirou a calcinha. E deslizou sobre ele
como quem brinca no rasinho do mar. Ele não a tocou, era proibido. Só se
continuasse além dos 40 minutos de massagem, tinha 20 para o amor. Não. Aquilo
jamais seria amor. Nem nas relações amorosas sexo é amor. Durante todo o tempo,
ele ficou imaginando a razão de uma moça como ela trabalhar ali. Ela fez o
semelhante, o que um rapaz como ele iria buscar ali. Ambos se respondiam
imediatamente, em silêncio. Obviedades, em vias de necessidades e carências. Após
o complemento, limparam-se. Ele pediu o número do celular dela. Gostaria de
vê-la longe dali. Ela deu, eles nunca mais se viram. Até hoje ele não sabe por
que ela quebrou o protocolo e ela não sabe por que ele pediu o telefone. As
pessoas conseguem se perder já no meio do deserto. Potencializam sua
desorientação relacional. Não basta se perder nesta vez, ela há de se prolongar
no tempo. A faculdade que ele fazia à noite, ela cursava de manhã, outro curso.
Dois perdidos numa tarde suja. Profissional, ela reservou sua privacidade, sua
pessoalidade como ninguém. Usuário, ele fez perguntas de fila em supermercado.
Despediram-se como se não houvesse hoje. Ele sem culpa, ela com dinheiro. A faculdade
custa novecentos e cinquenta reais por mês. O prazer da vida, comum aos bem
orientados, tem um valor incalculável...
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