segunda-feira, 6 de novembro de 2017

KO - TAO 98












Uma casa nada engraçada, não tinha cozinha, não tinha sacada. Nome chinês, no térreo de um prédio comercial do Bigorrilho. Recomendado por um daqueles sujeitos meio mentira, metade fantasia. Gueixas? Coisa exclusiva de paulista. Mas tudo bem, ele foi conhecer, não tira pedaço. Entre um cliente e outro, encontrou o estabelecimento. Luxo, muito luxo, mascarando a luxúria do sentido finalístico do local. Um book, e ele escolheu a mais magrinha, sem silicone, ela “estava” (para não dizer morava) por ali na região, chegou em minutos. Daquelas do tipo “quem olha não diz que é”. Muito bonitinha, mas muito mais pessoalmente. Subiram, ele foi para o chuveiro lavar os pés, ela achou estranho, talvez seus fregueses não fizessem aquilo. Assim que ele deitou na ‘macama’, ela começou o procedimento tântrico, apenas relaxamento. Quebrou o protocolo, tirou a calcinha. E deslizou sobre ele como quem brinca no rasinho do mar. Ele não a tocou, era proibido. Só se continuasse além dos 40 minutos de massagem, tinha 20 para o amor. Não. Aquilo jamais seria amor. Nem nas relações amorosas sexo é amor. Durante todo o tempo, ele ficou imaginando a razão de uma moça como ela trabalhar ali. Ela fez o semelhante, o que um rapaz como ele iria buscar ali. Ambos se respondiam imediatamente, em silêncio. Obviedades, em vias de necessidades e carências. Após o complemento, limparam-se. Ele pediu o número do celular dela. Gostaria de vê-la longe dali. Ela deu, eles nunca mais se viram. Até hoje ele não sabe por que ela quebrou o protocolo e ela não sabe por que ele pediu o telefone. As pessoas conseguem se perder já no meio do deserto. Potencializam sua desorientação relacional. Não basta se perder nesta vez, ela há de se prolongar no tempo. A faculdade que ele fazia à noite, ela cursava de manhã, outro curso. Dois perdidos numa tarde suja. Profissional, ela reservou sua privacidade, sua pessoalidade como ninguém. Usuário, ele fez perguntas de fila em supermercado. Despediram-se como se não houvesse hoje. Ele sem culpa, ela com dinheiro. A faculdade custa novecentos e cinquenta reais por mês. O prazer da vida, comum aos bem orientados, tem um valor incalculável... 


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