Vou desafiar a Física. Chega
desse negócio de ciências exatas. Cadê a nossa liberdade diante da matéria?
Quem regeu ontem as leis da natureza sem consulta prévia ao povo do depois?
Deito em supino, o sangue quase todo escorre para a parte baixa do corpo em
relação ao leito: um coração funcionando com carga mínima, stand by, led na
consciência, terceira visão invisível num terço da fronte. Os manuais alertam
sobre este perigo, como se tivéssemos controle dos movimentos involuntários da
fase REM em diante. Entre na caverna pelo centro, o resto é com os morcegos, é
o que basta para explorar outra madrugada desconhecida. Olhos cerrados, tudo escuro,
começa a aparecer o que está obscuro. A respiração mais inspira do que solta; lentamente
os compassos cardíacos; atividade cerebral em repouso, hormônios em calmaria e
pressão arterial reduzida a termo: o metabolismo queda vertiginosamente sobre lençóis.
Pequena rigidez do corpo integral. A temperatura interna recolheria o mercúrio bem abaixo dos 34 graus. Tudo isso
acontecendo e eu aqui na cama, dando espaço ao pensamento. Pronto, já não me
controlo mais. Agora sou só essência. Organismo na garagem, entro na residência imaterial do meu eu. Há pouca gente, um quase ninguém, digo como que em respeito ao
próximo. Parece que aquela ciência se foi, restou a doutrina que me orienta. Sento
num sofá imaginário, não tem nada para ler. Abro os olhos de mentirinha, a luz
quase me cega. Onde será este lugar tão iluminado que fica dentro de mim mesmo?
Realmente, não consigo olhar, determinar com precisão onde estou. Depois de tanto tempo, já
não há mais minotauros em meu labirinto, expulsei-os, eram parte arredia de
mim. O que descobri, é que meu caminho de então tem apenas uma pedra, e que esta
pedra, sou eu quem a mantém no lugar. Ela não tem peso, não tem cor, nem
tamanho. Para removê-la, eu preciso apenas acordar direito, fazer valer a engenhosa conduta em vigília. Nestes tempos de indiferenças, a contração orgânica se faz fundamental para quem deseja sua própria expansão. Seres termais, haveremos um dia de mergulhar sem hesitar nas lavas mornas das cavas dos nossos nãos...
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