quinta-feira, 3 de março de 2016

Contos de Migração



Uma Passagem Para Pasárgada 
As calçadas por onde ando. Ruas pelas quais me desloco. Caminhos dentro do mesmo lugar, homem celular dentro da cidade corporal, hemácia na grande circulação, sociedade orgânica, alimentos nem tanto. Há uma tendência motora e incondicionada em seguir os mesmos trajetos, denota certa segurança, previne-se perdas, várias. De tempo, de espaço, de qualquer coisa mais. Se for preciso ir ao centro, vejo as horas, escolho o veículo (coletivo ou individual) e me mando para Altamira, nunca sem escolher o melhor jeito, mais econômico em todos os sentidos. As vias principais já não são mais de eleição, buscamos alternativas, encontramos, desviamos e chegamos. Ou seja, não há novidades urbanas. Um restaurante, outro boteco, pode aparecer. Mas a metrópole não muda, o que muda são as pessoas a circularem naquele lugar no mesmo tempo em que nós. Mas são pessoas que também não mudam. Mesma cidade, pessoas fungíveis, uma rotina entediante essa de quem não espera por ninguém. Penso que isso só me faz ganhar tempo, poupando olhares, giradas de pescoço, paradas bruscas que eu nunca fiz: meu flerte é natimorto. Os corpos estão ficando cada vez mais iguais, aumenta-me a homogeneização da massa, nada mais se destaca. Aquelas belas coxas são apenas mais duas coxas na multidão. Na multidão, igualam-se cabelos, seios, vestidos, bundas, pernas, ventres, rostos. O ritmo me impossibilita de ver as mãos delas, que eu tanto prezo. Não consigo individualizar mais ninguém. Parece que tirei as almas dos organismos, a matéria de tão semelhante é quase amorfa. Reduzi as pessoas a uma raça humana que convive na base da pseudocomunhão em aglomerados, feito os bichos irracionais, em glebas contemporâneas. Não me excluo, sou animal do Paraná. Só que esta mesmice me causou fadiga relacional. Eu poderia andar por outros caminhos daqui, mas nada me interessa. Tudo sempre gira em torno do mesmo centro, a praça do Xavier. Esta vida carrossel tem um limite juvenil de longevidade, até que se perceba o eixo ao redor do qual está se sobrevivendo. O elevador ergueu o carro até a altura dos olhos para trocar os discos de freio, donde eu pude ver as rodas que me conduzem. Ando em diagonais, mas dentro de um círculo, ora horário ora anti-horário, todo itinerário. Tenho que ir embora. Quero me livrar da trigonometria cartesiana do destino, da razão pura da prática acadêmica, de todas as teorias insustentáveis que tentam explicar o conservadorismo social, justificando a ausência de asas nos primatas. Tudo isso é hermético demais para meu coração vadio e tangente. Preciso urgentemente da areia vagabunda da praia, da lascívia litorânea das ondas, da luxúria escaldante do sol; livre a boiar pelas infinitas horizontais do oceano. Eu não quero padecer aqui ou namorar... 


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