c.p.
Ela tem o não sei quê. Posso
imaginar, pois sou um notívago vagabundo. Uma coisa que percorre seu organismo
pegando carona na grande circulação. Divide o transporte de seu oxigênio com as
hemoglobinas, em regime de protocooperação modificada, uma simbiose anímica eu
diria. Leva aquilo que a move, alimenta e inventa. Mas como, se esta relação ecológica
se dá entre espécies diferentes? Sim, há uma outra dimensão dentro de seu organismo,
particular dela, incomum aos seus. Suas palavras convidam à desconstrução do
óbvio. É aquela porção mulher que desponta no vórtice da condição humana. Aguda,
entra em sua mente (do ingênuo leitor) sem aparar arestas, rasgando todos os
seus hábitos conservadoramente inertes, redondinhos, previsíveis ou démodé. Ela
quebra, rompe, transpõe, e invade a ideia de quem invadiu sua casa, ninguém
mandou, bem feito. Os menos preparados, dão meia volta. Os construtores do
mundo (os visionários) acomodam-se no primeiro banquinho. Engraçado...parece um cinema mudo ao
avesso. Uma explicitude de segredos, eu não diria. Seus textos, não levam a lugar nenhum longe do ser e sua amplidão:
sempre onde vai, está junto. Não se desliga dela, um voo atmosférico pode ruir
em segundos. Uma fruta, arremeter em milésimos. Assim é ela. Ao lado das
panelas, na beira das janelas, pintando cores nos seus vitrais. Tola, não sabe
que tanta gente por aí, sobrevive em uma vida black-tie. Mas a latência é própria do
ser humano, que não reconhece sua potência. Assim, é essa pessoa que eu não conheço.
Se conhecesse, eu tocaria a velosa canção. Escrever e cantar, são coisas
iguais: resta-nos contemplar tais manifestações humanas, o que os dicionários chamam de arte. Mas
me encontro aqui, tentando fazer voar esse sabiá-laranjeira, que caiu do ninho
antes do segundo grito..
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