quinta-feira, 10 de março de 2016

c.p.


c.p. 
Ela tem o não sei quê. Posso imaginar, pois sou um notívago vagabundo. Uma coisa que percorre seu organismo pegando carona na grande circulação. Divide o transporte de seu oxigênio com as hemoglobinas, em regime de protocooperação modificada, uma simbiose anímica eu diria. Leva aquilo que a move, alimenta e inventa. Mas como, se esta relação ecológica se dá entre espécies diferentes? Sim, há uma outra dimensão dentro de seu organismo, particular dela, incomum aos seus. Suas palavras convidam à desconstrução do óbvio. É aquela porção mulher que desponta no vórtice da condição humana. Aguda, entra em sua mente (do ingênuo leitor) sem aparar arestas, rasgando todos os seus hábitos conservadoramente inertes, redondinhos, previsíveis ou démodé. Ela quebra, rompe, transpõe, e invade a ideia de quem invadiu sua casa, ninguém mandou, bem feito. Os menos preparados, dão meia volta. Os construtores do mundo (os visionários) acomodam-se no primeiro banquinho. Engraçado...parece um cinema mudo ao avesso. Uma explicitude de segredos, eu não diria. Seus textos, não levam a lugar nenhum longe do ser e sua amplidão: sempre onde vai, está junto. Não se desliga dela, um voo atmosférico pode ruir em segundos. Uma fruta, arremeter em milésimos. Assim é ela. Ao lado das panelas, na beira das janelas, pintando cores nos seus vitrais. Tola, não sabe que tanta gente por aí, sobrevive em uma vida black-tie. Mas a latência é própria do ser humano, que não reconhece sua potência. Assim, é essa pessoa que eu não conheço. Se conhecesse, eu tocaria a velosa canção. Escrever e cantar, são coisas iguais: resta-nos contemplar tais manifestações humanas, o que os dicionários chamam de arte. Mas me encontro aqui, tentando fazer voar esse sabiá-laranjeira, que caiu do ninho antes do segundo grito.. 





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