O Ovo
de Tróia
“As
religiões não catequizam”, disse o falecido sociólogo. Referiu-se também a
outras instituições sociais que não alcançam os fins a que se propõem. O que
então, esperar de uma Páscoa? Chocolates, bombons, colombas, doces, gostosuras
ou travessuras. Um presente, dinheiro talvez. Independentemente do significado
do feriado, se esqueceram do momento. Um chamamento para uma união, familiar ou
não. Mas as pessoas aproveitam a ocasião e desagregam, desconstroem, destroem
ao invés de reforçar estruturas, laços. Sob o pretexto do conselho, da fórmula
ideal ou da maestria condutora do destino certo e único, revelam-se portadoras da verdade segundo elas, não
segundo a própria verdade. Interpretar os fatos - mesmo sem elementos suficientes, apenas com aquilo que é aparente - passou a ser o fiel da balança,
o critério que determinará o valor sobre alguém, o desprezo e a perspectiva ou
a falta dela. Ignore-se o fato em si, a pessoa, o passado, o que ela fez ou
representa: o que vale é o seu 'julgamento', cientificamente conhecido como 'juízo', 'opinião formada' no popular. Há uma síndrome no ar, afetando os
operadores do Direito que processam tudo em sua única instância sem recursos. E
também os não operadores, que fazem o mesmo sem diploma em Ciências Jurídicas. Assumem, ambos, a
condição de desembargadores da moral, juízes do moral, magistrados da razão.
Passam por cima de qualquer coisa que for necessário afastar para chegar lá, na
decisão final. Não se reúnem provas, não se colhem depoimentos nem oitivas, não precisa, o
procedimento é assim mesmo: a humilhação disfarçada de ajuda. O não reconhecimento, é um moderno costume que virou lei. Adeus sentidos, dos feriados, das uniões, de todas
as coisas que pudessem agregar. No avesso do odioso mundo contemporâneo, havia uma confissão dentro do ovo:
“eu tenho a sua verdade comigo”. Isto posto, não teve paladar, pois o formato
do presente quebrou o elo. As pessoas perderam a noção da forma, maneira, jeito
de discutir a vida sem ofensas e com respeito, consideração. As convicções,
surgem para matar a relatividade da própria realidade. O que era para ser uma cesta de alegrias, transformou-se num balaio de personalismos. A comunicação social se
perde no ego. Parece não haver caminhos mais adequados para nortear a ótica.
Parece não haver mais amor para orientar a ética...
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